Coisas de Filhos Ausentes de Regresso
Coisas de Pais
O meu filho voltou para casa! Seis dias depois, quase 144 horas e muitos mais minutos, voltei a abraçar o meu filho com aquela força e aquela vontade de o trincar todinho que as saudades provocam. Claro que ele ainda me fez penar um bocadinho... Foi, segundo os meus pais, a vez que perguntou mais por mim, que me disse mais vezes ao telefone para ir ter com ele, e aquela em que mostrou mais vontade de regressar a casa... mas foi também aquela em que reagiu pior quando me viu! A primeira vez que o deixei de férias com os meus pais e fui passear com o pai dele uma semana (ainda o irmão dele não existia e só podia ouvir o riso dele ao telefone, porque ainda não falava), quando regressei ele virava-me a cara e não largava o colo da minha mãe nem por nada! Senti-me uma mãe horrível que teve a coragem de abandonar o seu filho para ir gozar as praias de Miami, apesar de o meu assunto com o meu marido nessas férias ter sido apenas as saudades que sentia do meu filho (e o meu marido já não podia ouvir a frase: "Mas porque é que viemos tantos dias?!"), e a conta do telemóvel ser quase tão grande quanto o orçamento das férias (de manhã para saber se o Afonso acordou bem, ao almoço para saber se comeu e foi dormir a sesta, à noite para saber se jantou e já está a dormir... fora os extras, que incluíam algumas tentativas de o fazer mandar beijinhos ou dizer qualquer coisa perceptível). Só algumas horas depois de termos aterrado em Portugal é que consegui que o meu filho olhasse para mim, percebesse que eu tinha vindo para ficar e me desse a mão. Só a largou à noite, quando o pus na cama, e nessa noite acordou algumas dez vezes para me obrigar a ir ter com ele (e assim provar-lhe que ali estava). Tinha 10 meses. Hoje com três anos, já conversa comigo ao telefone, o que me deixa mais descansada quando diz "Olá, mãe. Estou a brincar... Um beijinho para ti, outro para o pai e outro para o Bastião", e muito preocupada quando, pelo contrário, diz "Vem ter comigo... Quero ir para casa. Vem-me buscar..." Fico mais descansada quando ele regressa a casa, me abraça e diz "Olá! Aqui estou!" e muito angustiada quando chora e grita "Não quero a mãe! Estou zangado com a mãe! Quero volta para casa da avó!". Pois foi isso que aconteceu desta vez, à porta da minha garagem, entre uns esperneios e umas frases doz avós que tentavam fazer-me sentir menos mal: "Vinha a dormir... Isto é sono... Mal quis almoçar, para vir ter contigo...". Também me mostrei compreensiva ("As crianças são mesmo assim...", "É sono, é"), mas por dentro estava a martitizar-me ("Mas porque é que eu não me enfiei no carro e o fui buscar quando ele pediu?", "Mas porque é que o deixei ir?") e valeu-me o Sebastião que passou uma semana sozinho comigo e não queria por nada sair do meu colo. Dei-lhe uns abraços fortes para compensar aqueles que o irmão não queria dar-me, mas a birra do Afonso, felizmente, durou pouco mais de meia hora. Depois disso, já eu o tinha tentado comprar com todos os brinquedos que sobraram do Natal, resolveu esquecer a sua dor e perdoar-me. Abraçou-me, encostou o seu nariz ao meu e deu-me as personagens principais dos seus teatros até ao fim do dia. Quem se queixou depois foi o Bastião, que à custa das pazes entre a mãe e o mano, foi empurrado literalmente para a avó...
Enquanto tudo isto acontecia, o meu marido discutia com o meu pai os pontos de luz cá de casa. Descontraidamente. Sem problemas de consciência, culpa ou angústias. E quando me sugerir as próximas férias longe dos nossos filhos e eu lhe relembrar as reacções deles, vai achar que eu estou a exagerar e a ser paranóica. E ainda que eu sugira irmos só 3 dias, iremos 9 e ele ainda vai achar pouco. E vai-nos fazer bem, e vai fazer bem aos nossos filhos, ainda que reajam mal quando nos voltarem a ver, e a única que vai pensar nisto e naquilo, e no outro, e vai ficar angustiada e culpada e magoada por mais de meia hora, o tempo das birras... sou eu! Mas porque é que a cabeça das mães não pode ser descomplicada como a dos pais?
2 comentários
Minha querida, os pais são mesmo assim. Preocupam-se como nós, pensam neles como nós, mas fazem-no de maneira diferente, com menos drama, com menos coração e com mais cabeça. Nós, pelo contrário, temos o coração ao pé da boca, e 80% das vezes, o coração salta cá para fora juntamente com um torbilhão de sentimentos. Mas, e esta é só a minha opinião de "recente Mãe", é o equilibrio entre o Pai e a Mãe que faz com que eles cresçam felizes.
ResponderEliminarBeijos muito grandes
Rita
PS: Já pedi à minha prima que falasse contigo para combinarmos o lanchinho em minha casa com os teus Piolhos e o meu. Tb já lhe dei o "Frio"... já te disse que adorei, não já??
Não sei se concorede com essa generalização. O meu marido não corresponde a essa descrição e´sou eu quem, muitas vezes tem de andar a desdramatizar a ausência, a saudade e a alargar os prazos das viagens a dois. Por ele, era ir e voltar. Quando saímos, monopoliza o telefone e fica com a lagriminha fácil, que só um bom jantar fora compensa. Mesmo assim, ainda começa, no restaurante a dizer que a Matilda gostaria disto e o Miguel daquilo...
ResponderEliminarEnfim, só não engravidou, literalmente, porque não pode!
Acredito que com alguns pais seja assim mas... gostaria de concordar mas a verdade é que não posso.
Beijos e parabéns pelo blog. É bem divertido e não tem aquele ar de crónica de mãe babada, ainda que acredeite que o sejas (só podes!)