Coisas de Idas ao Supermercado

- 17.1.07

Coisas de Pais
Tenho uma relação de amor/ódio com as idas ao supermercado com o meu filho Afonso. Se vou sozinha escolho os produtos com uma nostalgia horrível, a lembrar-me das graças que o meu filho diria sobre os legumes, e das amolgadelas nos ovos Kinder... Se o levo comigo, desespero e chego a casa com a certeza de que foi a última vez que fiz compras com ele. Começo por pô-lo no carrinho, e ando longe das prateleiras para ele não pegar em nada sem a minha permissão. Dou-lhe normalmente a lista para as mãos, para ele ter com que se entreter, e rio sempre que lhe pergunto o que vem a seguir, e ele me responde, como se estivesse efectivamente a ler: “Cho-co-la-tes. Chocolates, mamã. E brin-que-dos. A Teresa escreveu aqui brinquedos.” A Teresa, que para quem não sabe é a empregada cá de casa, costuma ajudar na elaboração da lista, e como mal sabe escrever dá erros dignos de figurar no programa do Diogo Infante. Mas para o caso é irrelevante, porque o meu filho não sabe ler. Mas finge bem: “Cenouras, mamã? A Teresa não escreveu cenouras. Nem bróculos. Escreveu can-ja, mamã. Temos que levar canja...”.
Fujo estrategicamente as filas dos brinquedos, mas quando não consigo evitá-lo é meia hora só para explicar ao meu filho porque é que ele não pode levar mais brinquedos para casa. Explico-lhe a inflação e os deveres dos pais para com os seus filhos (Não os tornar consumistas, mandamento número 2, logo a seguir a Não os deixar ser malcriados). Mas às vezes, em situações de desespero, lá o mando escolher um brinquedo só com um número no preço, excepto nas situações em que ele me “compra” com um livro. Como já sabe que adoro comprar-lhe livros, diz às vezes, em desespero de causa: “Nada, mamã? E se for um livro?”. E pronto, lá cedo, e às vezes até estico o orçamento dos mimos para os dois dígitos.
No final é a saga do Ovo Kinder, que ele adora, mas que normalmente chega esborrachado à hora de comer. Resta o brinquedo, que cada vez tem menos graça: “Que lindo fantasma, filho... Não é um fantasma? Então o que é? Um ET? Temos que perguntar o pai que porcaria é esta que me levou 1Euro e tal...”.
Na caixa, tem que ser ele a marcar o código do cartão, o que arranca sempre sorrisos amarelos às pessoas que estão à espera (porque ele engana-se sempre, claro está...), e no carro é tentar enfiar tudo na bagageira sem que ele fuja para a estrada ou para o meio do parque de estacionamento. Quando regresso a casa, já sempre fora de horas, atiro os sacos no chão e lamento-me, a suar: “É a última vez que levei o Afonso comigo às compras...”.
Mas na semana seguinte, invariavelmente, lá estou eu à porta da escola do meu filho, com aquele sorriso desafiador: “E então, Afonseto? Pingo Doce ou Carrefour?” Pais...

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