Coisas de Sofia de Mello Breyner Andresen
Hoje a noite terminou com "Se os animais se vestissem como gente" de Luísa Ducla Soares (muito giro!).
Ou melhor... era para ter terminado, se o Afonso não tivesse lembrado e bem:
- Hoje não devíamos estar a ler Sophia de Mello Breyner?
Pois devíamos. E aqui fica o meu preferido:
A Forma Justa
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo
(Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas")
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