Coisas de Morte

- 24.3.11

Desta vez foi o Sebastião (5) a abordar o tema da morte, e a conversa também não foi meiguinha...

(Sebastião) Ó mãe, tu já alguma vez morreste?
(Mãe) Não, Sebastião. E tu?
(Sebastião) Também não.

...

(Sebastião) Ó mãe, se tu um dia morreres, contas-me como é que é o céu?
(Mãe) Porquê, Sebastião? Achas que é um sítio bonito?
(Sebastião) Não, acho que é um bocadinho feio. Porque as pessoas que se portam mal vão para dentro de uma caixa escura.

(Mãe respira fundo antes de retomar a conversa)

(Mãe) Quem é que te disse isso, Sebastião?
(Sebastião) A minha professora de Catequese hoje contou a história de um homem mau que dava com o chicote nas pessoas. Quando ele morreu chegou ao céu e o Jesus disse que ele tinha que ficar fechado numa caixa. Ele queria pedir desculpa às pessoas a quem tinha dado com o chicote, mas não podia porque já estava morto...

Tentei explicar-lhe que a caixa escura não existe, e que ele vai sempre a tempo de pedir desculpa quando se porta mal. Mas estou a crer que, graças à aula de hoje de Catequese, o Sebastião vai acabar mais uma noite na minha cama...

Entendo que a sociedade precise de regras e de castigos (se fizeres mal vais para a prisão), e que as religiões também se tenham desenvolvido nesse espírito, embora com castigos mais "transcendentais" (se fizeres mal vais para o inferno, ou vais reencarnar em qualquer coisa ou qualquer vida pouco agradável). Não sei se os meus filhos vão ter alguma religião quando crescerem, nem sequer se eles vão acreditar na sociedade como a conhecemos hoje em dia. Mas prefiro ensiná-los que é preciso fazerem o bem e serem correctos em tudo o que fizerem, porque é a única forma de fazermos os outros felizes e sermos também felizes, do que por receio de qualquer castigo, humano ou transcendente. Claro que eles às vezes ainda não sabem bem o que é o correcto, e eu também os castigo. Se calhar, não estou a fazer nada assim de tão diferente... Mas quero acreditar que um dia os meus filhos vão crescer e já não precisarão nem de mim, nem de ninguém, nem de algo, para serem homens correctos. A ver vamos...

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