Coisas de Voz do Coração

- 27.11.17

O Miguel é um dos meus personagens preferidos da "Escola das Artes". Todos têm o seu "quê" de especial, para mim, mas o Miguel tem muito dos meus filhos adolescentes, assim como de tantos adolescentes (e também adultos!) com que me vou cruzando. O Miguel é muito criativo, mas usa (por revolta, desinteresse por parte dos pais e dos professores com quem se cruzou, desmotivação... adolescência!) a sua criatividade para dizer mal de tudo e de todos. De forma divertida, é certo, sempre com uma piadinha debaixo da língua, mas sempre também com um certo mal-estar que não o deixa sair das suas visões do mundo e das pessoas para ir mais além.
O desafio que a diretora da Escola lhe deu foi o de ouvir a voz do seu coração. Coisa aparentemente lamechas e despropositada para um adolescente, ainda por cima rapaz (assim o pensou ele). Teve, no entanto, a ajuda de uma amiga traquina que o deixou no topo de uma árvore, sozinho, a ouvir o silêncio do bosque. E o Miguel descobriu novas formas de usar a sua criatividade. E o Miguel descobriu que tinha um coração cheio de coisas boas para dar ao mundo. E o Miguel percebeu que a razão e o coração não precisam de estar em lados opostos. Podem e devem ser aliados para que possamos desenvolver-nos intelectual e emocionalmente.
Às vezes, quando vou às escolas, apetece-me abrir os portões das mesmas e levar todos os jovens para o silêncio da floresta. A paz dos campos. A tranquilidade do céu. E lá, rodeados de tudo aquilo que nos dá vida, falarmos daquilo que são as nossas prisões. Não são os muros nem as grades, os horários ou as imposições. A nossa maior prisão, geralmente, somos mesmo nós próprios...

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