Coisas de Pais e Filhos

- 6.3.13

"Tendemos a pensar no que temos a ensinar aos nossos filhos e a esquecermo-nos de encarar o tanto que temos a aprender com eles. Esquecemo-nos que os filhos não são nossos nem nós deles. Passam pela nossa vida e nós pela deles, numa dependência fundamental mas efémera, numa relação de instantes mas eterna. Estamos sempre sem podermos estar sempre. Amamos sempre sem o podermos mostrar sempre.
Mas não, os filhos não são nossos nem nós deles. Passam pela nossa vida e nós pela deles, para ensinarmos uns aos outros o que sabemos de melhor. Nós preparamo-los para viverem sem nós, ensinando-lhe a presença na ausência. Eles preparam-nos para vivermos sem eles, ensinando-nos a ausência na presença. Nós fazemos por estar sem estarmos. E eles, à medida que crescem, ensinam-nos que podem estar sem estarem. Fogem de nós devagarinho. Primeiro à nossa frente, à nossa mesa, no nosso sofá, para nos irmos habituando. Depois desaparecem-nos mesmo, estejamos ou não habituados. Nós ensinamo-los a viverem sem nós, e eles tentam ensinar-nos também a vivermos sem eles. A sermos, para além deles, com tudo aquilo que eles nos ensinaram a ser.
Nem sempre a lição é fácil, mas torna-se ainda mais difícil quando faltamos às aulas. Se não estamos presentes, como queremos ensinar? Se não estamos presentes, como podemos aprender? E as lições perdem-se, os ensinamentos esfumam-se. As relações quebram-se, e nenhuma ausência é já presença, nem há já presença ausente. Perdemos demasiado tempo na pressa da vida. Na luta pelo que não interessa. Na revolta contra nada que mereça. Perdemos demasiado tempo sem sermos uns dos outros, no tempo certo. Quando o tempo certo passa, procuramo-nos e já não nos temos. Nunca fomos uns dos outros, de facto e, se não aprendermos nada uns com os outros, no tempo certo, corremos o risco de não sermos sequer já de nós próprios."
(sararodi.blogspot.com)

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