Coisas de parábola indiana

- 5.5.15

Hoje, no beijinho de boa noite ao meu filho mais velho, apanhei-o "a jeito" para lhe contar uma parábola indiana que ouvi há dias (Joana Bertholo, muito obrigada!):


“Numa aldeia viviam 6 sábios cegos que todas as pessoas da aldeia recorriam para pedir ajuda e conselhos.

Os 6 sábios cegos eram bastante amigos, mas existia uma certa rivalidade entre eles que os levava a discutir sobre qual dos seis seria o mais sábio.

Certo dia, depois de muito discutirem e não chegarem a nenhum conclusão sobre a verdade da vida, o sexto sábio ficou chateado e decidiu ir viver sozinho para uma montanha perto da aldeia.

– Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor as pessoas e em vez de aconselharem os mais necessitados vocês estão a discutir como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora! – disse o sexto sábio.

No dia seguinte, chegou à aldeia um comerciante montado num elefante. Os sábios nunca tinham tocado num elefante e correram para a rua ao encontro dele.

O primeiro sábio apalpou a barriga do elefante e disse:

– Trata-se de um animal enorme e muito forte. Toco nos seus músculos e nada se move, parecem paredes!

Logo de seguida o segundo sábio ao tocar nas presas do elefante comentou:

– Que palermice! Este animal é pontiagudo como uma lança. É uma verdadeira arma de guerra!

O terceiro sábio ao tocar na tromba do elefante exclamou:

– Estão enganados! Este animal é parecido com uma serpente. Mas não morde, porque não tem dentes na boca!

Posto isto, o quarto sábio ao mexer nas orelhas do elefante comentou:

– Vocês os três estão malucos! Este animal é único e diferente de todos os outros. Os seus movimentos são calmos e o seu corpo parece uma cortina!

Pouco convencido, o quinto sábio toca na cauda do elefante respondeu irritado:

– Vocês os quatro estão completamente doidos! Este animal é parecido com uma rocha que tem uma corda presa no corpo, até me consigo pendurar nela!

E assim ficaram durante horas os 5 sábios cegos a discutir aos gritos."



(Mãe) Qual é que achas que é a moral desta história, Afonso?

(Afonso) Não julgar o livro pela capa?

Era uma possibilidade. Mas a parábola ainda não tinha terminado.



"O sexto sábio lá no cimo da montanha ouvia a discussão e decidiu descer para acalmar os ânimos dos colegas. Após chegar ao local pediu a uma criança que desenhasse no chão a figura do elefante.

Quando o sexto sábio tocou no desenho e sentiu os contornos do elefante percebeu que todos os outros sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. O sexto sábio agradeceu à criança e pediu a atenção dos colegas:

– É assim que os homens se comportam perante a verdade. Agarram apenas numa parte, pensam que é o todo e discutem como tolos!“




(Mãe) Para a tua vida prática: ter sempre consciência de que só tens acesso a uma parte da verdade, à tua perspetiva, à tua realidade. Que os outros poderão estar a ver outras verdades que te escapam. Procura sempre ouvi-los, com abertura, para conseguires ter uma visão mais ampla da realidade. E mantém sempre a humildade: por mais que saibas e por mais que vejas, nunca verás todo o elefante. "Life is an elephant".


Sorriu. Pensou e dormiu.
E, por mais que eu resmungue e me queixe da adolescência que se aproxima, dos jogos de cintura que já são precisos, das teimas e dos primeiros confrontos, não há dúvida de que a adolescência traz também a possibilidade de discutirmos tantas outras coisas que eles não entenderiam na infância. E eu, ganho também com as suas novas perspetivas, tenho seguramente muito a aprender com as suas outras verdades.


PS - Outra versão desta história, em inglês, por John Godfrey Saxe (1816-1887):

The Blind Men and the Elephant


It was six men of Indostan
To learning much inclined,
Who went to see the Elephant
(Though all of them were blind),
That each by observation
Might satisfy his mind.

The first approached the Elephant,
And happening to fall
Against his broad and sturdy side,
At once began to bawl:
"God bless me! but the Elephant
Is very like a WALL!"

The Second, feeling of the tusk,
Cried, "Ho, what have we here,
So very round and smooth and sharp?
To me 'tis mighty clear
This wonder of an Elephant
Is very like a SPEAR!"

The Third approached the animal,
And happening to take
The squirming trunk within his hands,
Thus boldly up and spake:
"I see," quoth he, "the Elephant
Is very like a SNAKE!"

The Fourth reached out an eager hand,
And felt about the knee
"What most this wondrous beast is like
Is mighty plain," quoth he:
"'Tis clear enough the Elephant
Is very like a TREE!"

The Fifth, who chanced to touch the ear,
Said: "E'en the blindest man
Can tell what this resembles most;
Deny the fact who can,
This marvel of an Elephant
Is very like a FAN!"

The Sixth no sooner had begun
About the beast to grope,
Than seizing on the swinging tail
That fell within his scope,
"I see," quoth he, "the Elephant
Is very like a ROPE!"

And so these men of Indostan
Disputed loud and long,
Each in his own opinion
Exceeding stiff and strong,
Though each was partly in the right,
And all were in the wrong!

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