Coisas de Personificação

- 7.5.15

Afonso chega a casa a refilar por causa de uma pergunta que teve errada no teste de português.

(Afonso) Era a história de um cavalo marinho que ficou sem a sua companheira, porque ela morreu de uma doença. Ele ficou muito triste e sentiu-se perdido. No teste perguntava porque é que isso era uma personificação. Mas isto para mim NÃO É uma personificação!
(Mãe) Ai não?
(Afonso) Desde quando um cavalo marinho não pode ficar triste e sentir-se perdido por ter perdido a sua companheira? Os animais também têm sentimentos!

E assim nascia uma pertinente discussão (pelo menos, a meu ver) sobre o que era a personificação e se ela não estava um bocadinho desfasada da realidade, à luz de tudo aquilo que sabemos hoje sobre os animais.

Personificação: figura de estilo que consiste em atribuir qualidades, comportamentos, atitudes, emoções e impulsos humanos a coisas ou seres inanimados ou a animais irracionais.


Atribuir sentimentos a objetos sem vida, o meu filho percebia. Mas... a animais? E desde quando os animais não têm sentimentos?

E a discussão tornou-se realmente interessante quando começámos a perguntar-nos:
E o que é isso de "sentimentos humanos"? (já para não falar de qualidades, comportamentos e atitudes)
Não existiriam já esses sentimentos noutras espécies antes sequer de existirem os humanos? Porque é que achamos que é tudo nosso ou por causa de nós?
E porque é que continuamos a chamar os animais de irracionais, se somos nós que nos matamos em guerras e que destruímos o único planeta que conhecemos que nos garante a sobrevivência? Se são tantas as vezes em que os Humanos perdem a Razão (às vezes tantas mais do que aquelas em que conseguem mantê-la), e tantas as vezes em que vemos os animais terem mais razão do que nós?
E, se sabemos que sabemos tão pouco sobre quase tudo o que existe, nomeadamente sobre os animais, as suas potencialidades e capacidades, porque continuamos a diminui-los, ignorá-los, condená-los sistematicamente?


(Afonso) É desta que escrevemos uma carta ao Ministério!

Infelizmente, há muito mais para mudar, neste mundo, do que a definição de uma figura de estilo.
Felizmente, temos uma nova geração atenta e com vontade de mudança, assim a façamos acreditar que é possível.

(Mãe) Estou orgulhosa de ti, filho.

(Afonso) Estás mesmo? Olha que eu errei a pergunta...

(Mãe) Mas foste um ser pensante, capaz de usar o seu sentido crítico para mudar aquilo que considera errado. Isso, para mim, é que é a prova da nossa racionalidade...



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2 comentários

  1. pena essa qualidade e esse pensar não seja avaliado..
    Mas o teu filho tem toda a razão.. Os animais ficam tristes quando perdem o seu companheiro

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