Coisas de (Ins)Pirações Familiares

- 21.12.12

Folhear o livro que a Limetree preparou com textos de vários blogues portugueses e brasileiros sobre as maravilhas da maternidade (as vendas revertem a favor da Unicef) é entender aquilo que nos une a todas nós, mães: o amor incondicional pelos filhos. A vontade de fazer cada dia melhor...

Deixo-vos o meu texto, na expectativa de que vos aguce o apetite para lerem os restantes:


O Círculo da Maternidade

Depois de um atribulado banho a cinco - eu e os meus quatro filhotes enfiados no chuveiro, para poupar tempo, água e energias – a minha filha pequenina, de três anos, deixou-se ficar no WC. Os rapazes já tinham ido às suas guerras, escapando ao creme hidratante e à escovagem do cabelo, que só por imposição lhes chega ao pelo. Mas a pequena Nonô, única menina da casa, talvez por me ver cansada (ou talvez só por me ver desgrenhada!), pediu-me que me sentasse no chão, com o seu sorriso meigo irresistível.
- Mamã, posso pentear-te?
Anuí e deixei que ela me penteasse, suavemente. Ela grande, eu pequenina, ela a comandar, eu a obedecer, ela a cuidar, eu a deixa-me mimar.
- Agora ponho-te o baton, mamã...
Foi buscar um de brilhos e passou-mo pelos lábios, de olhos postos nos meus, e os meus nos dela. Podia ter-me imaginado criança outra vez. Mas, talvez porque a idade já se vá impondo, imaginei-me, ao invés, velhinha, com os cabelos já menos macios, os lábios já mais enrugados, mas com a mesma Nonô à minha frente, já crescida, a cuidar de mim. E foi impossível não perguntar:
- Tomas conta de mim, Nonô? Para sempre?
- Sim, mamã. E depois do baton eu conto-te uma história.
Era de reis e princesas, mas a história que eu ouvia, dentro de mim, era sobre o amor de mãe e o amor de filha. E invadiu-me essa certeza boa de que o ciclo da vida faz mais sentido com filhos. Nem todos podem tê-los, infelizmente, e é sempre possível redescobrir sentidos noutras aventuras. Mas esta, a da maternidade, é sem dúvida um círculo bem fechado, perfeito em todas as dimensões. Porque nascemos, crescemos, damos vida, cuidamos e depois libertamos (com mais ou menos custo) aqueles que um dia dependeram de nós. Até que nos tornamos nós dependentes, precisamos que nos olhem, que aqueles a quem demos vida cuidem de nós (com mais ou menos custo) enquanto a nossa vida dura. Já não crescemos, minguamos, mas orgulhamo-nos de tudo aquilo que fizemos crescer à nossa volta. E, num mundo perfeito, só então morremos.

Sara Rodi
Mãe do Afonso (9), do Sebastião (7), do Duarte (3) e da Leonor (3)
http://coisasdepais.blogspot.com


Podem adquirirem o livro através de http://www.bubok.pt/livros/6330/InsPiracoes-Familiares-Historias-para-ler-sorrir-e-amar

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