Coisas de dentes Cherub
Depois de o Afonso ter andado alguns dias a abanar os pré-molares, enquanto os que lhes rompiam por cima continuavam a crescer, os pais decidiram que estava na hora de marcar uma consulta no dentista. A mãe, já a prever que o filho ia ficar numa gigantesca aflição, à custa de um dente que uma vez teve que arrancar e que lhe "doeu horrores" (como ele diz), preparou-lhe um pãozinho fresco com manteiga e fiambre, e levou "O Recruta", que já tínhamos encomendado há dias e finalmente chegara a casa.
O pai deixou o Afonso à porta da clínica, e ele vinha já cabisbaixo, embora tentando disfarçar a aflição com o seu humor de 9 anos.
- Mãe... dás-me 5 minutos para fugir?
- Vamos só ver o que o dentista diz. Calma.
- Antes que seja tarde demais... quero que saibas que gosto muito de ti.
Não se emocionem os leitores, o parlapié dele era mesmo em tom de gozo, antevendo uma hora de extrema aflição. Lá saquei então do livro 1 da coleção Cherub, e ele lá animou um bocado:
- Estou triste por causa do dentista... contente por causa do livro...
E no meio termo lá se foi aguentando, até ser chamado ao consultório. O dentista era daqueles com jeito para os miúdos, lá espreitou e respreitou, e finalmente vaticinou:
- Ainda não é grave. Se daqui a seis meses não caírem os de baixo, então vens cá falar comigo.
Mãe feliz porque não teve que ver o seu filho sofrer, e porque não teve que pagar a consulta. Afonso feliz com o livro debaixo do braço, disposto a continuar o seu plano de abanar 20 vintes os dentes que têm de sair, todos os dias após as refeições (se possível, à noite, 100 vezes). E lá ganhámos o dia:
- Mãe... este foi para aí o terceiro ou quarto dia mais feliz da minha vida!
Ganhou de bónus poder ler até mais tarde. Meninos com pré-molares definitivos já podem ler, de vez em quando, até às 22 horas...
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