Coisas de Partida

- 3.5.14

Faleceu-me há 3 dias um amigo. Um amigo de longa data, do tempo em que íamos de bicicleta para casa uns dos outros, abríamos com à-vontade o frigorífico de qualquer casa e improvisávamos um lanche, enviávamos cartas para dizer coisas importantes, mesmo morando a 5 kms...
O Chico - assim se chamava o meu amigo - era um de quatro irmãos. Tinha dois irmãos e uma irmã, e uns pais que sempre admirei pela dinâmica (entre tantas outras coisas). Observava muitas vezes a boa confusão da sua casa, onde todos entrávamos e nos instalávamos como se fosse nossa, e sempre pensei que um dia, se a vida mo permitisse, gostava de ter assim uma família grande, essa mesma boa confusão.
A vida acabou por permiti-lo. Numa boa coincidência, fui mãe exatamente de três meninos e uma menina, que lá vai tentando ganhar o seu espaço e aprender as suas técnicas de "sobrevivência" no meio de tanto rapaz. Muitas vezes, nas dinâmicas cá de casa, comigo a desesperar, procuro lembrar-me da mãe do meu amigo Chico e pergunto-me o que ela faria, no meu lugar. Tornou-se no meu bom exemplo a seguir, tendo eu ainda tanto por aprender. Hoje, a confusão é na minha casa e não podia estar mais feliz por isso.

Há três dias, quando morreu o meu amigo, fiquei triste porque o perdi, mas sobretudo porque aquela família ficaria mais pobre. Infelizmente tive de aprender, com aquilo que já vivenciei na minha própria família, que os filhos podem partir primeiro do que os pais. Sendo absolutamente contra-natura, é algo tão possível como outra coisa qualquer, sendo a vida aqui na Terra tão frágil e efémera. Não pude deixar de chorar com aquela mãe, com aquele pai, e com aqueles irmãos tão unidos. Mas não pude deixar de pensar também que, apesar de todo o sofrimento, valeu tanto a pena, para quem partiu e para quem ficou, tudo o que foi vivido...
De regresso a casa, do velório, fui beijar cada um dos meus filhos que já dormia. Olhei-os demoradamente. E prometi a mim mesma que, não sabendo eu qual de nós partirá primeiro e como ou de que forma, faria os possíveis por me lembrar todos os dias de fazer os meus filhos felizes, assim como de tentar aproveitar toda a felicidade que eles têm para me dar. De todas as lições que a partida do Chico terá para nos ensinar, esta já me tocou particularmente. Vivendo mais ou vivendo menos, a vida é um exercício de felicidade. Felicidade que devemos procurar e felicidade que devemos espalhar. Tudo o resto virá por acréscimo.
Obrigada, Chico. Até sempre...



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