Coisas de Marrocos à vista

- 13.8.14

Por estes dias, resolvemos pegar nos mais velhos e levá-los a conhecer Marrakech. A confusa medina, os souks, a religião muçulmana, os trajes, as tribos, os instrumentos musicais, os animais... No último mês eles foram pesquisando sobre o país, nós fomos ensinando umas quantas coisas, mas não há dúvida de que o melhor, mesmo, é descobrir com os nossos sentidos.
E o saldo não podia ter sido mais positivo. Para além de experimentarem coisas novas (andar de camelo, tocar uma flauta-encanta-serpentes, brincar com macacos, provar comidas novas...), conheceram uma nova realidade, com a qual nunca se tinham confrontado. E, a dada altura, sentados num passeio a beber um sumo de laranja marroquina, a conversa disparou para o hipotético:

(Mamã) Já pensaram quem é que vocês seriam se tivessem nascido noutro continente? Como seria a vossa vida? Como se comportariam? No que é que acreditariam?

Visitar novos ares, novas paragens, é sempre uma boa oportunidade para pensar que somos, em boa parte, frutos do nosso contexto. Este não explica tudo, é certo, mas não deve ser indissociável do julgamento. Centenas, milhares de pessoas atravessavam-se à nossa frente, numa confusão de barulhos e cheiros, e qualquer um de nós podia ser qualquer um dos outros que observávamos.

(Mãe) Este podias ser tu, Titão. Este mais fininho é parecido contigo, Afonso. O que é que vocês acham que fariam se tivessem nascido aqui?
(Afonso) Eu fugia para Portugal!
(Mãe) Tu não sabias o que era Portugal. Este era o teu mundo. Era aqui que tinhas a tua família, os teus amigos, a tua realidade...
(Afonso) Eu cá não queria ser bombista!
(Mãe) Podias ser um muçulmano bem pacífico, como todos estes que aqui vês.
(Afonso) Mas tinha que aprender a regatear...
(Sebastião) Eu cá queria ser um encantador de serpentes!
(Afonso) E tu, mãe? Andavas toda tapada até aos olhos?

Quem sabe dizê-lo? Somos o que somos, apenas. Melhor ou pior, a experimentar um espaço e um tempo recheado de surpresas...





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