Coisas de professores
Mãe observa o Titão a ensinar os números e algumas letras aos irmãos mais novos. Com muita paciência, cheio de truques.
(Mãe para o Pai) Hum... Acho que o Sebastião vai ser professor...
(Pai) Não digas isso... Coitado!
Em noite de PRós e Contras sobre o ensino, é esta a voz do que se passa no nosso país neste momento. A profissão de professor, outrora tão dignificante, e desejada por isso mesmo, é hoje uma hipótese que não interessa a ninguém. Aqueles que a escolhem por vocação (felizmente ainda muitos, e só isso nos vale!), partem para ela com o sorriso de um condenado: "Sei que vou ser maltratado, mas ainda assim sacrifico-me, pela minha paixão e por tudo o que posso fazer pela próxima geração." É bonito, é de louvar. Mas até um mártir, na hora H, duvida da sua entrega: "Valerá mesmo a pena passar por isto tudo?". "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste..."
As crianças são cada vez menos no país. Temos professores a mais. Muitos a mais. Temos de voltar a ser criteriosos na seleção, sim, com menos universidades, provas de acesso mais exigentes onde se tenha em conta a vocação, etc etc. Mas depois temos de valorizar os que avançarem, apoiá-los e dignificá-los, porque dessa dignificação depende em larga medida a sua motivação, o seu empenho e, claro está, os resultados daqueles que são os principais prejudicados desta história toda: os alunos.
Sou filha de uma professora que ainda hoje, reformada, diz com orgulho que o é. Uma vez professora, professora para sempre.
Sou mãe de um filho que talvez lhe tenha herdado a vocação, mas a quem vou mostrar outras alternativas, com esperança que ele se convença a ser outra coisa qualquer.
Vamos ver se, na altura dos meus netos, ser professor já será outra vez uma profissão de prestígio...
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