Coisas de atentado em Paris

- 10.1.15

Assistimos, em choque, aos mais recentes acontecimentos em Paris.
Para os gémeos, pareciam só mais umas quantas imagens horríveis das que passam todas as noites nos telejornais, de morte e violência (ao ponto que tenhamos tantas vezes de mudar de canal ou desligar a televisão, que é mesmo a forma mais saudável de fazer uma refeição em família).
Mas o Sebastião e o Afonso já quiseram saber pormenores. O que levou aqueles homens a entrar e a matar. Como é possível fazê-lo em nome de uma religião. Em nome do que quer que seja.
Já sabiam o que era o Islão (até porque no ano passado estivemos em Marrocos), o que distingue essa religião do cristianismo, e o que as aproxima. Na fé e na atitude pacífica e de respeito por quem tem religiões diferentes, depois de muitos séculos conturbados e de guerras santas, levadas a cabo por ambas as partes.
Já sabiam o que era o Estado Islâmico e a violência bárbara das suas ações, condenadas também pela comunidade islâmica. Condenadas por qualquer pessoa de bem.
Só não sabiam bem o que era a liberdade de expressão. E esta, apesar de a termos explicado e defendido, levantou-lhes dúvidas.

(Sebastião) Mas nós não podemos dizer tudo o que queremos. Se gozarmos com os professores ficamos de castigo.
(Afonso) E o Islão não proíbe as imagens de Alá e de Maomé? Então porque é que há gente que continua a fazer esses desenhos? Vocês estão sempre a dizer que a nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro...

Explicámos então que a liberdade de expressão existe e é um princípio básico da democracia. Limitar essa liberdade é censurar. Não é assim possível impedir que alguém diga o que quer. Mas pode-se penalizar, se essa liberdade prejudicar ou magoar alguém.
Agora, na nossa vida prática, e para evitarmos prejudicar ou magoar alguém, é sempre bom usarmos a máxima de que a nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Um dia, eles serão donos e senhores da sua liberdade de expressão. Poderão usá-la como quiserem, e serem penalizados se a usarem mal. Mas até lá, é nosso dever, dever de pais, ensinar-lhes o que devem e não devem dizer, de forma a não prejudicarem ninguém. Nem a deixarem-se prejudicar.

Agora, se eles um dia acharem que devem denunciar alguém ou alguma coisa (e é também esse o papel dos jornalistas), devem fazê-lo, ainda que possam depois tentar penalizá-lo, acusando-os de estarem a usar abusivamente a sua liberdade de expressão. Às vezes, os jornalistas correm riscos por isso mesmo, mas se eles o fizerem por acharem que essa denúncia é necessária e tornará o mundo num lugar melhor, será sempre, à partida, um ato de coragem.

A conversa ficou por aí. Os filhos pareceram mais satisfeitos, mas os pais estavam exaustos. Explicar este mundo e as suas regras aos mais novos (sendo que neste mundo há tantos pequenos mundos com outras regras, e tanta gente que prefere viver sem elas) nem sempre é simples. Nem sempre é linear. Até porque a nossa liberdade de expressão, de pais, também é limitada. Limitada por aquilo que achamos que faz bem (ou não) aos nossos filhos ouvir.



You May Also Like

0 comentários