Coisas de Mulheres vs Homens

- 8.1.15

Caminho para a escola, e a mãe resolveu abrir as hostes: "Hoje vamos debater os direitos das mulheres!"

(Nonô) Eu sou mulher!

(Afonso) Quais mulheres?

(Mãe) Todas, filho. Sabes que as mulheres nem sempre foram vistas como pessoas, nem sempre votaram, nem sempre puderam estudar, nem sempre tiveram liberdade...

(Sebastião) A sério, mãe?!

O Afonso já tinha alguma noção, falámos do que ainda hoje se passa em países onde a mulher é escravizada, abusada, traficada, explorada, reduzida a objeto.

(Afonso) Mas em Portugal as mulheres já têm os mesmos direitos que os homens, não já?

Lembrei-lhe então o muito que havia ainda por fazer: as 40 e tal mulheres que só no ano passado morreram vítimas de violência doméstica, a quantidade de mulheres que ainda vêm para o nosso país em redes de tráfico sexual, a quantidade de mulheres que ainda são assediadas e ouvem nas ruas os mais bárbaros "piropos" e em como isso podia afetá-las...

(Afonso) Ui, mãe, isso devia ser debatido na minha escola. Os meus colegas dizem com cada coisa uns aos outros...
(Mãe) Ora aí está, Afonso. Isso não é só um problema ligado aos direitos das mulheres. É um problema de falta de respeito pelo outro. E de falta de entendimento que a minha liberdade acaba sempre onde começa a liberdade do outro.

Depois falámos sobre as tarefas domésticas... sobre quem as faz e quem as deve fazer.

(Afonso) Mas as mulheres podem ter mais jeito para umas coisas...
(Mãe) Claro que sim. Assim como os homens podem ter mais jeito para outras. Agora, achar que um deles tem mais direito do que o outro a ficar no sofá, enquanto o outro trabalha, é injusto e uma falta de respeito pelo outro.

Confirmaram que sim. E a conversa ia ficar por ali, estávamos a chegar à escola e já tinham pensado que chegasse sobre o assunto num tão curto espaço de tempo. Mas o Afonso tinha uma reivindicação a fazer:

(Afonso) Se queres falar de direitos, tenho uma pergunta para ti: Porque é que as raparigas têm critérios diferentes de avaliação a
Educação Física, e nós, rapazes, que não temos jeitinho nenhum com as mãos, não temos critérios diferentes a Ed. Visual?

Lembrei-o que há um ou outro colega dele (rapaz) que tem muito jeito para desenhar, mas ele retorquiu que também há raparigas muito boas a desporto. Mas só nesta disciplina há critérios diferentes.

Fiquei sem resposta, por isso coloco-vos também esta pergunta a todos vocês que estão desse lado: deverá haver critérios diferentes para raparigas e rapazes em algumas disciplinas? Se sim, em quais e porquê?

Claro que esta é uma questão menor - eu até sou muito crítica em relação ao sistema de ensino atual, tão focado nas notas e na
competição - mas não deixa de ser pertinente. Alguém quer ajudar-me a pensar sobre isto?

You May Also Like

5 comentários

  1. Não acho que se devam definir diferentes critérios.. Porque é que se há-de assumir que as raparigas não são tão boas para o desporto como os rapazes?

    ResponderEliminar
  2. Só deve haver critérios diferentes se implicar algo físico, como a força (rapazes têm mais) ou a flexibilidade (tenho a ideia que rapazes têm menos)..
    Agora a nível de jeito isso não é bem assim.

    ResponderEliminar
  3. Olá Sara! Interessante questão realmente. Não tenho uma resposta directa para isso mas posso estudei em colégios mistos até aos 14, quando mudei para um feminino e como tive as duas visões na primeira pessoa posso dizer que, em termos de educação é muito mais fácil ensinar e avaliar em colégios separados do que juntos talvez por isso mesmo, porque o método de ensino (o cérebro fem-masc são diferentes e portanto aprendem também de forma diferente) e os critérios de avaliação são uniformizados para o sexo em questão de maneira que torna a tarefa muito mais facilitada. Não responde à pergunta do Afonso mas acaba por estar relacionada.

    Um beijinho!

    ResponderEliminar
  4. Quanto às aulas de educação física, vindo de uma família de professores de dessa mesma disciplina, posso ajudar a clarificar (um pouco).

    Os diferentes critérios de avaliação não se prendem com jeito para o desporto mas sim com a biologia, ou, para ser mais precisa, com a limitações biológicas.

    As mulheres são naturalmente menos fortes e menos rápidas.E esta diferença é tida em conta nas avaliações de algumas disciplinas técnicas do desporto - notem que nem em todos os desportos a avaliação é diferente. A título de exemplo, espera-se que uma rapariga seja tão ágil a fazer uma cambalhota, como um rapaz.

    Mas também existem critérios inversos, como por exemplo, a nível da flexibilidade. As mulheres são naturalmente mais flexíveis que os homens e daí, nas avaliações, os meninos terem de atingir "valores" de flexibilidade menores do que as meninas.

    Adicionalmente, quando se faz uma avaliação tem-se em conta o género, e normaliza-se as notas. Ou seja, as meninas são avaliadas com os critérios do sexo feminino (quando existem diferenças) e os meninos com os critérios do sexo masculino, o que impede que as meninas tenham notas mais baixas só porque são (biologicamente) menos rápidas ou menos fortes. Podem ter ambos 4 ou ambos 5, mas fazerem tempos diferentes numa corrida, por exemplo, e isto deve-se exactamente às avaliações adaptadas às limitações biológicas de cada sexo.

    Este método de avaliação, ao contrário do que muitos pensam, promove a igualdade de géneros, não ignorando, no entanto, as limitações biológicas de cada sexo. E isto é fundamental numa sociedade que promove a igualdade de géneros: aos homens e mulheres devem ser dados os mesmos direitos, mas nunca nos podemos esquecer que, no fim do dia, somos efectivamente dois sexos diferentes, com competências, papéis e limitações também elas diferentes (a nível biológico e fisiológico). Resumindo, as meninas têm os mesmos direitos e deveres que os meninos nas aulas de educação física, mas não podemos exigir que um corpo feminino e masculino trabalhem da mesma forma, pois efectivamente não trabalham.

    E para quem ainda tem dúvidas, basta perder algum tempo a ver uma prova, como por exemplo uns europeus, mundiais ou jogos olímpicos. Ai estarão a ver a elite das elites - todos têm jeito, todos são grandes atletas, todos se esforçam ao máximo - mas as mulheres não saltam tão alto, não saltam tão longe, não nadam nem correm tão depressa.

    Por fim, também não devemos reduzir uma aula de educação física a desporto. Há testes, trabalhos, e toda uma avaliação contínua que permite a quem não tem tanto jeito, mostrar que sabe e que está empenhado e isso, conta muito para as nptas finais.

    ResponderEliminar
  5. Obrigada a todos pela vossa ajuda! Eu por acaso também não acho que a igualdade de direitos implique que tenhamos que ser iguais em tudo. Somos inegavelmente diferentes, e acho que essa diferença é boa quando trabalhamos num espírito de entreajuda e cooperação, cada qual com a sua diferença (escrevi um artigo sobre isso que em breve vai ser partilhado na plataforma Maria Capaz. Depois partilho para saber a vossa opinião). Agora, num ambiente de competição, é natural que estas diferenças venham ao de cima e gerem alguma controvérsia. Fiquei esclarecida em relação à Ed. Física. Mas entretanto também me explicaram que as raparigas desenvolvem mais rapidamente a motricidade física do que os rapazes, o que as poderia beneficiar nas atividades manuais. Deveria assim haver critérios diferentes em disciplinas onde essa motricidade fina estivesse implicada? Não sei...

    ResponderEliminar