Coisas de Segredo para Eternidade

- 9.1.15

(Afonso) Mãe, tenho uma questão...


Ui, ui! Quando ele se aproxima com aqueles olhos muito abertos a dizer que tem uma questão, começo logo a suar...

(Afonso) No filme Interestelar, por cada hora que os astronautas passavam num planeta (Miller), passavam 7 anos na terra...
(Mãe) Sim. Isso tinha a ver com a proximidade de um buraco negro, a densidade e a gravidade... acho eu!

Olhou-me com aquele seu olhar... como é que a Mãe não percebe mais destas coisas? Não é o futuro da Humanidade que está em causa? E a mãe não estuda Astrofísica porquê??


(Afonso) Mas o tempo lá passa mais devagar?
(Mãe) Não. Acho que é tudo relativo. Para os humanos que lá estavam, foi tudo muito rápido. Mas em relação aos que estavam na Terra, foi muito tempo.
(Afonso) Mas então se nós vivêssemos nesses planetas vivíamos mais?
(Mãe) Vivíamos mais, mas só relativamente às pessoas que estavam na Terra. O astronauta principal, quando foi encontrado, já tinha 120 e muitos anos. Por isso é que conheceu a filha já muito velhinha, enquanto ele tinha aspeto de 40 anos.
(Afonso) E se nós conseguíssemos que o nosso planeta tivesse as características do Miller... Vivíamos mais anos?
(Mãe) Provavelmente não... Éramos engolidos pelas suas ondas gigantescas...
(Afonso) Mas podíamos só tentar reproduzir aqui aquilo que faz com que o tempo passe mais devagar.
(Mãe) Ainda que fosse possível. Qual era a vantagem, se tu não sentirias o tempo a passar mais devagar?

Silêncio. Fuminho bom a sair da cabeça de ambos.

(Mãe) Costuma dizer-se que um ano na vida de um cão corresponde a 7 anos na vida do adulto. Mas para eles também é igual. Podemos dizer que eles são muito velhinhos, quase com 100 anos, porque já viveram 14 anos. Mas na prática, eles só viveram mesmo 14 anos.
(Afonso) Então o tempo é sempre relativo...

Einstein não diria melhor...

(Afonso) Mas o Tempo... eu sei que é relativo... mas o Tempo é "qualquer coisa", certo?
(Mãe) Talvez um conjunto de instantes de tempo.
(Afonso) E se houvesse um planeta ou uma dimensão sem esses instantes? Sem essa "qualquer coisa"? Então aí nós seríamos imortais, certo?
(Mãe) Mas será que nós, sem essa "qualquer coisa", seríamos "qualquer coisa"? Se calhar essa "qualquer coisa" é o que permite a existência. A não ser que nós, nesse tal planeta ou dimensão, também conseguíssemos existir de outra maneira...

Pareceu-lhe uma ideia interessante. E a mim também... Embora, em abono da verdade, eu não perceba é mesmo nada disto!

Entretanto, e porque alguém percebe e estuda isto todos os dias, vale a pena ler o trabalho da cosmóloga portuguesa Marina Cortês, galardoada esta semana com o Prémio Buchalter de Cosmologia. O resumo está neste artigo do Público.

“Queremos descobrir por que é que o tempo está sempre a avançar e nunca recua. É uma pergunta muito razoável. O Universo no seu conjunto evolui de uma forma que é irreversível.”
“A física é a única ciência em que todas as leis funcionam tanto para a frente como para trás, porque as nossas equações não incluem a direcção do tempo” (...) “essa é uma das razões por que é tão difícil desenvolver uma teoria da gravidade quântica” (isto é, uma teoria que descreva a gravidade em termos de física quântica) “que é o Santo Graal da física”.


PS - Entretanto, uma amiga enviou-me um link para perceber melhor as Teorias de Interestellar e a questão espaço-tempo. Obrigada, Rute! Já tenho programinha para fazer fim-de-semana com o Afonso...

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