Coisas de Nonô e o arranque do ano letivo

- 16.9.15

Não foi fácil dizer aos gémeos que iam trocar de escola. Só tivemos coragem a meio das férias, quando já ambos tinham feito coisas diferentes, conhecido amigos novos... E a verdade é que reagiram muito bem. Aceitaram e confiaram na nossa decisão. Se tínhamos decidido, estava decidido.

Mas hoje, enquanto os pais falavam com a nova professora na manhã de apresentação, eles resolveram ir brincar no pátio novo e a Nonô... perdeu-se. Tem aquele bom sentido de orientação da sua mãe (que é mesma coisa que dizer que não tem sentido de orientação nenhum!) e já não sabia vir ter connosco. Quando o pai a descobriu agarrou-se a ele assustada. E o resultado foi que, hoje à tarde, sentou-se no meu colo a choramingar e disse-me que, afinal, já não queria ir para a escola nova! Queria ficar na antiga, como os amigos. "Ainda posso ir para lá, mãe?"

Estava inconsolável e a mãe, que sou eu, de coração partido!
Lá lhe contei como foi o meu primeiro dia, os medos que senti e como os enfrentei. Nunca andei num pré-escolar, não conhecia nenhum menino da minha sala, quando entrei. E não, não foi fácil, mas ao fim de pouco tempo já tinha bons amigos e aprendido muitas coisas importantes.
Ouvi-me, acalmou um bocadinho, mas depois voltou a choramingar. "Eu quero a escola antiga!"

O que fazer?
Já passava da hora de ir para a cama, nem havia muito tempo para contar a história de boa-noite, mas talvez um bom livro me pudesse ajudar a resolver o problema. Olhei para as prateleiras, em busca de solução, enquanto ela soluçava ao meu lado... e a solução (ou o mais aproximado disso) acabou por surgir, na prateleira do Sebastião.


"Crianças do mundo", capítulo sobre como são as escolas dos meninos de vários países. Teria de servir...


Sentámo-nos todos na cama do Afonso (aproveitando que ele estava a dormir fora, em casa de um amigo), a Nonô aninhada no colo da sua mamã, falámos sobre o que aprendiam os meninos de outros países (Canadá, Gronelândia, Austrália, Congo, Brasil...), como aprendiam, como eram as suas rotinas, as suas brincadeiras no recreio, os seus lanches e almoços... e como, apesar de todas as queixas que possamos ter, somos uns privilegiados. Temos possibilidade de ir à escola (como muitos meninos ainda não têm neste nosso mundo), têm imensos materiais, livros, escolas bonitas, recreios espaçosos, lanches saborosos, professores e pais que os acompanham... e isso é realmente uma grande sorte! E que grande aventura é que aquela que começará amanhã.
Depois ainda falámos sobre os refugiados, que não vinham no livro. Os meninos que fogem da guerra e da fome. O que eles não dariam para estar num sítio tranquilo e ter uma escola como a deles...

E, pouco a pouco, a Nonô sossegou. Aninhou-se a mim e, quando dei por ela, até já estava a dormitar.
E amanhã não sei como será de manhã, quando tiver de a deixar pela primeira vez o dia todo. Mas não há dúvida de que olhar à nossa volta e conhecer outras realidade ajuda-nos a perceber como temos poucos, mas tão poucos motivos de queixa, no nosso dia-a-dia "difícil"... As dores da separação, do crescimento e do início de novas etapas fazem parte, e até é estranho que eles não as sintam. Mas também é bom, desde pequenino, aprender a relativizar.

Hoje, a Nonô adormeceu de coração apertadinho. E a verdade é que eu, que hoje lhe dei este sermão todo (porque a vida também já me ensinou a relativizar tanta coisa), não tenho o coração mais solto, porque as dores dos nossos filhotes são as nossas. Mas conto, dia após dia, ajudá-la a recuperar o seu sorriso rasgado, para o meu voltar a rasgar-se também.

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