Coisas de tarde livre, para que te quero

- 24.9.15

O Sebastião tem 4 tardes livres. Bem... não necessariamente 4, porque em 2 delas poderá começar a ter apoio às disciplinas em que estiver mais fraco. Mas tem tardes livres. E a mamã, que sou eu, perguntou-se de início como seria ter o filhote em casa tanto tempo, se ele iria aproveitar o tempo, se a mamã conseguiria trabalhar com ele em casa, se o saldo seria positivo ou só aumentaria a confusão familiar.

A verdade é que o saldo não podia estar a ser mais positivo. É certo que tenho de interromper o trabalho para o ir buscar, mas depois almoçamos os dois (e tenho um momento de boa converseta a sós com o meu filho "entalado" do meio, que geralmente tem pouco espaço de manobra com os irmãos tão tagarelas), vamos passear a cadela (ele vai de bicicleta, para desgastar mais umas energias), e depois vai trabalhar enquanto a mãe trabalha também, à mesma mesa. Faz TPCs, organiza cadernos, revê a matéria que deu, vai à net pesquisar alguma parte da matéria que lhe interesse, e às 16.30, quando os irmãos chegam, já tem tudo despachado e pode ir brincar com eles. Ainda vamos encaixar a música e talvez mais alguma atividade desportiva (para além do hóquei ao final do dia), neste horário, mas haverá tempo e haverá espaço para tudo isso, sem estragar o que, até agora, está a saber tão bem.

Posso ainda não estar a ver o filme todo... mas pela experiência até agora, começo a achar que este devia, realmente, ser o horário de todas as crianças, assim houvesse possibilidade por parte das famílias (e hoje em dia é muito difícil que haja) de os acompanhar nos tempos livres, ou em alternativa de os inscreverem num espaço que lhes proporcione isso mesmo (que existem, mas têm custos que nem todas as famílias podem pagar). Num dia inteiro de aulas, a que se seguem os TPC, estudo e outras atividades ao final do dia, como esperar que as crianças não fiquem esgotadas e saturadas da escola? Se também nós, adultos, depois de um dia inteiro de trabalho, nos sentimos esgotados e a suplicar por férias?


Ainda estou am reflexão sobre esta matéria, mas acho mesmo que ter aulas apenas num dos períodos, consolidando, diversificando e brincando no outro período, tornaria as crianças mais felizes e, consequentemente, mais abertas à aprendizagem e ao empenho.
Mas coitadas das famílias que, olhando para um horário de uma criança de 10 com 4 tardes livres, não têm quem as vá buscar, orientar, nem disponibilidade financeira para pagar a alguém ou a uma instituição que lhes proporcione essa orientação. Ter filhos, no nosso país, implica ter dinheiro ou tempo livre. E a verdade é que é muito difícil, nos dias que correm, ter uma destas coisas, muito menos as duas ao mesmo tempo. Os avós, que dantes eram o grande apoio nestas situações, trabalham até mais tarde, e a alternativa é muitas vezes dar-se autonomia às crianças para que elas vão sozinhas para casa e lá se ocupem o melhor que souberem e puderem. Autonomia não é necessariamente mau, muitas vezes isso até pode ser positivo. Mas não com todas as crianças, não em todos os contextos.
A reflexão continuará, mas se quiserem e puderem, deixem por aqui também as vossas experiências, opiniões e ideias, porque é do debate delas que nascem as soluções.

You May Also Like

0 comentários