Coisas de Sara, a Sufragista

- 4.11.15

Assisti ontem à ante-estreia do filme "As Sufragistas", antecedido de um excelente debate sobre o que tem sido a luta da mulher portuguesa pela igualdade de direitos e de oportunidades, e o que lhe falta ainda conquistar. (Obrigada, ‪#‎mariacapaz‬!)
Desafiada a dizer o que falta (porque ainda falta, efetivamente, muita coisa), referi um dos aspetos que me toca particularmente e que tende tantas vezes a ser esquecido, que é o da valorização e dignificação da maternidade. Num país onde não há crianças, não consigo compreender como é a maternidade ainda encarada apenas como uma escolha pessoal, um extra que cabe ao casal gerir, como uma espécie de trabalho de voluntariado que ainda por cima todos exigem que seja cumprido exemplarmente, quando não é dado à mãe nem ao pai, tempo e apoios para o exercerem como gostariam. Como é possível que, num país em que ansiamos tanto por uma geração mais bem preparada para o futuro, a todos os níveis, os pais continuem a ter de trabalhar tanto e até tão tarde, muitas vezes mais do que quem não tem filhos, porque os filhos duplicam, triplicam ou quadriplicam as despesas? Queixamo-nos de que continua a ser a mulher a primeira a desistir da sua carreira para apoiar os filhos, e dizemos, ironicamente, que ela "não trabalha", esquecendo-nos de que essa mulher trabalha das 7 às 21h (pelo menos!) todos os dias, sem direito a feriados, fins de semana ou férias, e sem receber nada por isso. Nem sequer o reconhecimento da importância que o papel de uma Mãe (e de um Pai também, claro!) tem na formação dos futuros cidadãos do seu país.
Longe de mim desejar que todos as mulheres deixem os seus empregos para irem para casa cuidar dos filhos! Não é, de todo, disso que se trata. Apenas desejo viver num país onde mães e pais (porque deve haver igualdade neste matéria) possam ter mais tempo, apoios efetivos e eficazes, e o reconhecimento da importância da sua função, enquanto educadores daqueles que nos sucederão. E, no caso de ser necessário um dos membros do casal dar mais apoio aos filhos, essa sua disponibilidade e entrega ser-lhe reconhecida, valorizada e devidamente apoiada.
Eu, da minha parte, gostava de colocar cada um dos meus filhos no meu currículo. E ai de quem se atreva a dizer-me que aquilo que trabalhei por cada um deles, e aquilo que aprendi com cada um deles, tem menos valor do que qualquer outra tarefa que eu pudesse desempenhar...

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2 comentários

  1. Ontem a educadora do meu filho ligou a dizer que o D. estava com 38,8ºC de febre. Ainda faltava uma hora e vinte para eu sair do trabalho e não tinham medicação para lhe dar. Falei com o meu chefe e fui buscá-lo. Em vez de o levar para casa, tive de ir ao centro de saúde porque tinha de levar um papel para o meu trabalho a comprovar que o meu filho estava mesmo doente. Observado pela médica, ainda não tem nada que justifique a febre e, por isso, só convém vigiar e, se tiver mais alguma coisa, voltar lá... Conclusão: fui a correr para o centro de saúde para nada, sujeita a que ele apanhasse qualquer vírus porque esteve rodeado de pessoas de todas as idades com várias doenças diferentes, sendo que estão crianças cá do concelho internadas com meningite, ainda por cima, e para quê?? Só para provar que ele estava mesmo com febre!! Enfim... Uma mãe desanima mesmo...

    Sandra

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  2. Pois é, Sandra. Ser mãe é uma grande batalha diária. E falta quem nos defenda... Não temos sindicato nem fazemos greves. Não temos tempo para isso... Mas na Islândia, há uns anos, as mulheres resolveram todas parar de trabalhar e ir para as ruas. Foi uma manifestação histórica que parou o país e o acordou para a realidade. Começo a achar que precisávamos de fazer o mesmo, por cá...

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