Coisas de Crónica sobre os pais, de Lobo Antunes
Aos meus pais. A todos os pais.
"E de repente compreendi que, se eu quisesse, (a mãe) me receberia inteiro na sua barriga e nada de ruim me aconteceria porque ela não deixava. Compreendi não com a minha cabeça, com a minha carne. É difícil explicar isto mas compreendi com a minha carne conforme senti que, verdadeiramente, nunca de lá tinha saído. Sentada no sofá, pequena, e eu, muito maior que ela, protegido lá dentro, protegido para sempre lá dentro, e então tive uma vontade imensa de tornar para onde vim. E quando nos saem pela boca frases deles que não sabíamos que sabíamos? E quando lhes sentimos o cheiro? E quando temos a certeza que eles ali, a olharem para nós em silêncio? E quando lhes escutamos os passos pela casa? E quando nos vêm com uma espécie de halo de amor que nos protege inteiros?"
http://visao.sapo.pt/opiniao/2016-11-10-Os-pais
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