Coisas de Cegonhas
Coisas de Pais
Há uns tempos perguntei ao Afonso se ele gostava que a mãe tivesse um bebé na barriga, ou que ele respondeu um imediato "sim" - desde que fosse ele próprio a vir cá para dentro. Com paciência, e contrariando a teoria da cegonha, expliquei-lhe que os bebés cresciam na barriga da mãe, saíam, cresciam ainda mais e mais, e depois já não podiam voltar porque já não cabiam cá dentro outra vez. O assunto morreu por ali, pensei eu que ele tinha interiorizado o conceito de nascimento e crescimento da forma simplista como eu o explicara, mas da vez seguinte que tornei a perguntar-lhe se ele gostava de ter outro maninho, o redondo "sim" dele já tinha uma teoria bem complexa a suportá-lo: "Sim, mamã... mas o papá precisa de encher a tua barriga outra vez, não é?". Falhou-me a quarta (as nossas conversas mais profundas são quase sempre no carro) e fiquei sem saber como fazer avançar aquela conversa. "Onde é que ouviste isso, filhote?" Triturando bolachas, ignorou-me e mudou de assunto. As crianças são como os jornalistas, nunca revelam as suas fontes...
Do querer voltar para a minha barriga à compreensão do papel do pai em todo o processo foi um passo de gigante em poucos dias. Mas o meu filho tornou a superar-se, hoje, na sua inteligibilidade do mundo: agora diz que quer ser ele a gerar o seu próprio irmão! "A minha barriga vai crescer, mamã! Crescer, crescer..." Pergunto-lhe se não era mais fácil o bebé crescer na minha, mas a ideia não lhe agrada: "Agora é a minha vez, mamã". Sem lhe querer roubar o protagonismo do próximo aumento da família, limito-me a perguntar-lhe que nome iria ele dar ao irmão que tinha na barriga. Ele olha-me com aquele olhar que reduz qualquer adulto à sua insignificância de crescido e responde: "Sebastião, mamã!" Óbvio! "E se for uma menina?" - continuei. "Sebastião-menina". Claro! Os irmãos são como aqueles animais que têm o mesmo nome para o macho e fêmea. Não interessa o sexo. Têm é que ter um bom dorso para servirem de cavalo ao Afonso, e apetite para comer os restos de pão ou bolacha que o Afonso já não quer, antes que a mãe apareça. Prioridades...
1 comentários
Uma caixinha de surpresas é o que eles são, e se pensarmos bem, tudo nas suas cabecinhas faz sentido... pelo menos para eles!!!
ResponderEliminarO máximo, esse Afonso!!
Quanto a chamares-lhe Piolhico, estás à vontade... essa história do plágio ainda não me afectou!!
Bjs
PS: O Manel nasceu prematuro e era muito, muito pequenino, por isso chamamos-lhe Piolhico! Eu costumava cantar: "Piolhico, Piolhico, Piolhico meu amor" - uma "piroseira" inventada por mim. Quando surgiu a ideia do blog, nem sequer pensei duas vezes quanto ao titulo (apesar da piroseira)!!