Coisas de Gagos

- 22.11.06

Coisas de Pais
O meu filho gagueja. Ou melhor, tem o síndrome não sei das quantas que, traduzido em miúdos, significa apenas que tem um pensamento mais veloz do que a sua capacidade de articulação. "É normal nas crianças" - disse a pediatra. Respondi-lhe que eu já não era uma criança e acontecia-me a mesma coisa, ao que ela respondeu sem piedade alguma: "Pois, isso é que já não é nada normal". Não fosse eu começar a formular teorias sobre a minha gaguês, abriu a porta do gabinete e fez um sinal de "next" à secretária. Ok, aquilo não era nenhum consultório de psiquiatria. A pediatria tem essa vantagem. As crianças não vão ao médico para conversar sobre os seus problemas. Ainda que os tenham, querem sair dali o mais depressa possível para irem brincar. Os pais às vezes são mais chatos, mas um bom pediatra sabe como arrumá-los a um canto ("Não seja tão protector!", "Para que é que lê tanta revista sobre o assunto? A médica sou eu!", "Vá mas é brincar com o seu filho, que está óptimo! De brincar é que ele precisa, não é de um pai chato a inventar-lhe problemas!").
A verdade é que o meu filho gagueja, quer contar as coisas e fica frustrado porque a cabeça já vai mais à frente e é preciso dizer tantas palavras para os outros perceberem tudo o que queremos dizer depressa... uma chatice! Acontece-me com tanta frequência, que agora deixei de tentar falar depressa e opto por calar-me. Quando vejo que não vou conseguir dizer tudo, e uns ameaços de gaguês começam a salivar-me na garganta, calo-me e mudo de assunto, ou se estou sem paciência remato com um "esquece" e vou fazer outra coisa qualquer. Mas o meu filho ainda não está em idade de perder a paciência. Ainda vai ter que se explicar muito na vida. Às vezes pede-me para lhe contar uma história e eu peço-lhe para ser antes ele a contar-ma. Ao que ele responde "não posso, mamã. Ainda não sei as letras..." Pois é, meu pequenote. É uma boa desculpa. Pena que eu já não possa usá-la, tenho a escola toda. Só espero é que, quando souberes as letras, não te aconteça o que me aconteceu a mim. Em vez de continuares a esforçar-te por que te entendam, simplesmente calas-te e... escreves!

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1 comentários

  1. Olha que se ele falar tão mal como a Mãe diz que fala, mas escrever tão bem como a Mãe já provou que escreve, não está nada mal... nada mesmo.

    Um beijinho
    Rita e Manel

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