Coisas de Namoradas

- 17.11.06

Coisas de Pais
Sim, desta vez é mesmo namoradas, sem dúvidas no género, embora com um pequeno problema no número! É que os meus filhos disputaram ontem, pela primeira vez, uma miúda! “Uma” única miúda! Levei os dois a verem o musical da Floribella, embora o meu filho mais velho tenha tido um ataque antes de sair de casa e gritado, a espernear, que queria ir antes ver o Bob, porque a Floribella era para meninas! E eu que cheguei a duvidar da sua masculinidade, quando me falou que tinha um namorado no infantário... Enfim, lá lhe prometi que, além das bruxas, o espectáculos também ia incluir dragões e os florins do Frederico tinham grandes hipóteses de se transformar em espadas cheias de cores que alguém depois trataria de vender à porta, e que nós compraríamos para juntar ao arsenal cá de casa (só espadas, assim de cabeça, estou a ver umas seis...). No caminho entusiasmou-se e começou a cantar as partes que sabia do “Não tenho nada... mas tenho, tenho tudo...”, com a minha empregada (que também foi, para me ajudar na façanha) a desafinar pelo meio. Tudo teria sido perfeito se a chuva não tivesse parado a auto-estrada de Cascais e eu não tivesse demorado uma hora e meia a chegar ao Coliseu. Foi o tempo do Afonso fazer xixi nas calças e quase fazer cocó (bendida prisão de ventre!), e do Sebastião comer quase um pacote inteiro de bolachas para não chorar (a única forma de o fazer calar-se é dar-lhe uma bolacha. Agora percebe-se porque é que ele pesa o mesmo que o irmão...).
Já no coliseu, foi a aventura de encontrar um lugar no meio das bancadas cheias de miúdas vestidas à Flor, que não se sentavam nem por nada. Os pais e mães olhavam para mim a pensar “o que é que esta vem para aqui fazer com um bebé?”, e digamos que a minha empregada atrás, com o saco das fraldas e dos biberões, também não ajudou muito à opinião geral.
Sentámo-nos nas escadas, porque eu nem me preocupei em arranjar lugar melhor. Estava convencida que iríamos sair daí a pouco tempo. O Afonso estava cheio de xixi, com cólicas para fazer um cocó que teimava em não sair, e o Sebastião tinha jantado bolachas e já era quase hora de ir para a cama (já para não falar que me tinha esquecido da xuxa dele). Foi quando a Floribella começou a cantar e as fadinhas das causas perdidas iluminaram a minha desanimada futurologia de mãe. O Afonso começou a bater palmas, o Sebastião a abanar-se de um lado para o outro (ainda só sabe dançar horizontalmente), e durante a hora e meia que durou o espectáculo não houve rabos molhados, faltas de xuxas, cocós presos ou falta de comida a sério que os incomodasse. A única questão foi uma menina linda, aí de uns seis anos, ruiva com a pele muito branquinha, com ar de Nicole Kidman em ponto pequeno, que ficou ao nosso lado. A Flor começou a cantar o “Quando eu te vejo” e a ruivinha cantou com ela, sentida, emocionada, a precisar de um príncipe encantado a quem dedicar a canção. O Sebas estava ao lado dela, tocou-lhe sem querer, e a pequena fez-lhe uma festa na cara. O Sebas estendeu-lhe a mão e trucas! A menina agarrou-lha com força e começou a cantar de mão dada com ele, em êxtase. Quando me apercebi, cometi o erro de chamar a atenção do Afonso: “olha, olha... o teu irmão a fazer-se à vida... e tem ele só um aninho!” Antes que acabasse os comentários, já o Afonso se tinha levantado e aproximado das duas mãos dadas, que separou à bruta. Olhou a menina ruivinha, que tinha bem à vontade mais dois palmos do que ele, disse em voz firme “Eu sou o Afonso”, deu-lhe a mão, e passou o resto da canção a lançar olhares ferozes de irmão mais velho ao Sebastião. Depois, até ao fim, foi disputarem quem se sentava mais perto da menina, que a bem dizer, finda a canção, já não queria saber nada deles. “Putos”, deve ter pensado.
Já no regresso (felizmente sem trânsito, e com uma flor, em vez de uma espada), pus-me a pensar como serão os meus dois catraios no futuro. Há muitas vantagens em ter filhos com idades próximas, mas no que toca a namoradas, acho que ainda vou ter muitas histórias para contar neste blog...

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3 comentários

  1. Pena não te ter visto lá... Gostava de ter visto essa aventura! Eu levei o meu primo Diogo (quatro anos), que na véspera,quando lhe falei no espectáculo, disse logo: "Mas eu não gosto da Floribella, é para meninas!Não quero ir!!!"Ó mãe, não quero ir! Só gosto do Batman!" Mas depois lá a mãe o convenceu de que íamos ao teatro e lá fomos. Portou-se bem, dançou e sorriu... Mas depois, quase no final, o cansaço venceu-o: "Quero ir para casa...". Mas aguentou até ao fim e só adormeceu no carro!

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  2. Felizmente, dado que os filhos de um agente secreto, se os houvesse, seria como se vivessem da província, não haveria Floribela. Bênçãos a que nem todos teriam acesso.

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  3. (correcção: onde se lê, no com. ant. 'da província' leia-se 'na província'.)

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