Coisas de Sapatadas e Safanões

- 19.11.06

Coisas de Pais
É difícil explicar a uma criança de 3 anos porque é que os pais de vez em quando podem dar umas “sapatadas” nos filhos e eles não podem responder da mesma forma. Passamos a vida a dizer-lhes “não batas nos teus colegas”, “não batas nos teus amigos”, “não se bate na avó”, “não se bate nos pais”, “não se bate, não se bate, não se bate”. E depois, à mais pequena asneira, lá nos voa a mão para cima da mão deles, do rabiosque, das pernas ou onde os apanhamos a jeito. Quase nunca o faço. Não consigo. Um dia o meu filho bateu-me e eu respondi-lhe da mesma forma e disse-lhe que estava muito triste com ele. Ele respondeu-me que também estava muito triste comigo porque eu também lhe tinha batido. E a verdade é esta: eu também errei. Senti que errei. Claro que os pais nunca batem nos filhos porque querem, ou por prazer. Batem-lhes (e quando falo em “bater” refiro-me a a pequenos “safanões” sem dano, não consigo sequer pronunciar-me sobre algo mais do que isto) porque 1) querem transmitir-lhes que eles estão errados (mas há tantas outras formas para o fazer...) ou porque 2) se descontrolam. Consigo admitir perfeitamente que um pai se descontrole quando um filho esperneia sem razão durante horas a fio, quando cospe vinte vezes a sopa, quando é malcriado, quando bate... Eu já me descontrolei algumas vezes, e admiro os pais a quem isso nunca aconteceu. Agora, um descontrolo é sempre alguma coisa má. Não posso ser apologista do descontrolo, porque ainda que um “safanão” ou uma “sapatada” dada no momento certo possa ser completamente inofensiva para uma criança, significa sempre que o pai ou mãe perdeu o controlo da situação e defendeu-se como pôde. Pode até ter bons resultados, mas é como jogar à bola com as mãos. A bola entra à mesma na baliza, mas podia ter entrado de outra maneira... “Devia” ter entrado de outra maneira...
Resta-me dizer que, com as devidas diferenças, acho esta questão parecida à do aborto: quem sou eu para condenar quem o faz por força das circunstância? (e mais uma vez abstenho-me de comentar quem o faz porque acha que tem esse direito) Não sei o que está por trás, e cada caso é um caso. Mas gostava que houvesse alternativas para ninguém ter que o fazer... Porque, numa questão e noutra, quem ganha são os filhos... e os pais.

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2 comentários

  1. Podes não acreditar, mas acabei de fazer um post no blog do Piolhico exactamente sobre os safanões que damos aos nossos filhos... este fim de semana o Manel apanhou a primeira palmada "a sério"... e devo-te dizer que fiquei pior eu que ele!!!

    Beijos
    Rita

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  2. Pois é... nem de propósito, também, o meu Afonso hoje tirou o diabo do corpo e conseguiu fazer todos os disparates possíveis e imaginários. Parecia um teste à minha capacidade de auto-controlo. Resultado: cinco ou seis sacudidelas, uma palmada onde o apanhei (nem sei bem onde foi porque ele fugiu), 2 castigos no sofá e berros... bem, a esses perdi-lhe a conta. Isto, definitivamente, não é fácil...

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