Coisas de Reencarnações

- 25.11.06

Coisas de Pais
Hoje estava a explicar ao meu filho que há pessoas que ficam velhinhas e morrem – explicar por que morrem as mais novas vai ter que ficar para quando eu própria tiver uma explicação – e ele respondeu, muito sério: “Sabes, mamã, eu também já fui velhinho e já morri.” Não resisti a puxar pelo assunto, ainda que os pelinhos dos meus braços já estivessem todos em pé. As crianças têm o dom de dizer coisas sem querer que geram intenções múltiplas nos adultos: “Porque é que ele disse isto? Já foi velhinho quando? Reencarnações? Vidas passadas? Uhhhh...”: Quis saber como foi e quando foi: “Eu não morri sozinho, mamã...” Ah, estava com alguém... Quem era? Porquê? A minha curiosidade mórbida tentava disfarçar-se num tom de voz infantil (aquele que usamos para estragar de mimos os nossos filhos). “Conta lá, filhote...”
Mas não tardou muito até que o assunto “pseudo-sério” desvalasse em disparate: “Estava com um leão, mamã. Ele mordeu-me e eu morri. Veio o Tigre e comeu-me”. Ok, respirei de alívio, embora a dramática cena que acabara de ouvir fosse para tudo menos para isso. Chegámos ao destino e o assunto “morreu” por ali... por pouco tempo, no entanto. Algumas das brincadeiras da tarde meteram mortos (metem sempre, quando ele se lembra de brincar com espadas: “Estás morrida, mamã!”), e dá-me ideia que o conceito foi aprofundado durante os sonhos da sesta: “Mãe, temos que ir buscar aquela senhora que morreu... Não pode ficar na rua senão vêm as outras pessoas e pisam-na...” Senti-me culpada pela minha tentativa de conversa educativa da manhã. Ele já tem monstros e dragões que cheguem a povoar-lhe os sonhos, não precisa de mais um. Só queria prepará-lo para entender algumas coisas que ele vai ter que viver, mas se calhar isso só se entende mesmo quando se vive. E é a partir desse momento que, seja em que idade for, se deixa de brincar aos mortos e morridos.

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