Coisas de animais mortos

- 10.9.07

Numa semana em que morreram cá em casa, de enfiada, dois peixes e uma tartatuga, colocou-se-me a questão: como explicar aos nossos filhos que os animais, em geral, não duram tanto quanto as pessoas e que as pessoas, também em geral, ficam mais tristes quando lhe morrem os pessoas do que quando lhes morrem os animais? A primeira questão não foi difícil, porque as crianças (pelo menos na idade dos meus filhos) têm uma noção de tempo muito especial. Um animal que viva muitos meses pode parecer que já viveu anos, porque as próprias crianças ainda têm poucos de vida. Explicar por que é que morrer-nos um animal é algo que temos que aceitar sem grandes problemas já foi um pouco mais difícil. Comecei a teorizar sobre humanos vs animais, com a história do "uns têm sentimentos, outros não". Falei em inteligência, e nos afectos que nos unem a uns e outros. E o Afonso lá percebeu, dentro daquilo que uma cabecinha de três anos pode entender. Sem que isso o impeça de não conseguir matar formigas porque tem medo, mas não tenha quaisquer problemas em dar pontapés ao nosso gato. Já o Sebastião, ouviu-me (se me ouviu) sem me ligar nenhuma, porque aos quase dois anos ainda não se percebe que fechar os olhos pode não ser só sinónimo de ir nanar. Tanto é que uma das brincadeiras preferidas dele é esborrachar bichinhos-da-conta com o pé, e no outro dia até apertou tanto um passarinho bebé que nos apareceu no jardim, que o matou de sufoco. Enquanto o passarinho abria o seu biquinho aflito, o Sebastião gritava, alegremente: "qué papa, qué papa?"...
PS - A Sociedade Protectora dos Animais que me desculpe. Eu juro que tentei evitar a chacina.

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3 comentários

  1. Também matei uma tartaruga sem querer...Andava a investigar o quanto aguentava a carapaça...ops...

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  2. Pelo contrário, eu não comi ovos durante um tempo porque estava a matar futuros pintainhos! Já então era um grandessíssimo hipócrita-carnivoro-pedófilo: não comia futuros pintainhos mas deliciava-me com porquinhos-bebés com o famoso tempero da Bairrada! É assim o ser humano: os bichinhos são tão fofinhos. De fofinhos a tenrinhos é uma curtíssima viagem, um pequenino trampolim ético que todos nós usamos. Podemos sempre comer pedras que não têm vida mas, convenhamos que não me costumam cair bem e acumulam-se nos rins.

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  3. ora que belo tema a tratar num futuro livro... escreves tu ou escrevo eu? eheheh! ;)

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