Coisas de galinhas e gaivotas

- 10.2.10

Hoje, no caminho de regresso a casa, contei a seguinte história aos meus filhos:

Era uma vez um ovo de gaivota que rolou para uma capoeira de galinhas. E assim que ela nasceu, olhou à sua volta e só viu galinhas. Ela, achando que era uma delas, cresceu a imitá-las, mas sempre se sentiu diferente e algo desajeitada. Certo dia, a gaivota olhou para o céu e viu gaivotas a voar. Ficou tão maravilhada que perguntou a outra galinha o que era aquilo. A galinha respondeu-lhe que era uma gaivota. A gaivota ficou fascinada com o que vira e insistiu com a galinha. Perguntou-lhe porque é que elas não voavam ou planavam como as gaivotas. A galinha respondeu-lhe que o lugar delas era na capoeira, a comer milho, e explicou-lhe a diferença entre as galinhas e as gaivotas. A gaivota ficou triste porque, afinal, ela preferia ser como aquela gaivota que voava, sem saber que ela também era uma delas.

(“Canja de Galinha para a Alma”)

- E então, meninos? O que é que vocês acham? Que são galinhas ou são gaivotas?

(resposta do Sebastião):

– Eu acho que sou um menino.

(Dah! A mãe faz sempre perguntas tão idiotas!)

- E tu, Afonso?

- Eu acho que TU és uma gaivota.

(silêncio da mãe)

- Porquê, Afonso?

- Se me estás a contar essa história, é porque queres ser uma gaivota. Queres deitar-nos na cama e sair pela janela a voar…

(novo silÊncio da mãe)

- Se calhar eu até já voo, Afonso. Sabes que há muitas maneiras de voar...

- Então por isso é que andas tão cansada. Pões-te a voar e não dormes…

A conversa ficou por ali, mas levou-me a perguntar-me a mim mesma se os filhos não precisarão mais de uma mãe galinha do que uma mãe gaivota. Não cheguei a perguntá-lo ao Afonso, mas depois imaginei a resposta dele e sosseguei:

- Afonso, os filhos precisam mais de uma mãe galinha ou de uma mãe gaivota?

- Depende, mãe.

- Depende do quê?

- De o filho ser um pinto ou uma gaivota-bebé...

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6 comentários

  1. És abençoada por teres filhos que te dizem as coisas da forma mais bela. A mesma com que lhes ensinas como é que é viver neste mundo de louco, onde as pessoas como tu, têm de andar sempre de mangas arregaçadas.
    O desafio está conseguir o equilibrio entre a gaivota e a galinha.
    Estou neste desafio de ser mãe há muito menos tempo do que tu e já ando nessa batalha. Eu sei que tu consegues muitas vezes. Tira as asas e põe a crista por uns dias. Sinto que estás a precisar de ficar em terra. beijos gigantes

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  2. Fico sempre fascinada com estes teus relatos. Ainda bem que os registas e tens a generosidade de os partilhares. A Irina tem razão, és abençoada! És uma mãe maravilhosa e mereces os filhos fantásticos que tens. Um grande beijo!

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  3. Eu sou a mais novata de todas as mamãs, mas já percebi que esta é a maior missão do mundo e fico encantada com a forma como tu a vives com os teus filhos. Adoro ler as vossas histórias e espero também conseguir esse equilíbrio e fazer com que mesmo as coisas mais complicadas pareçam simples. Beijinhos muito grandes e espero ver-vos em breve

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  4. E vais ser sempre uma gaivota-galinha-gaivota, Sara. Acho eu...
    Vou mandar-te por mail uma foto de uma gaivota-galinha.
    Eu sou pai-galinha-gaivota. E também me canso a voar nos intervalos... Parece que se deixa sempre de ser uma coisa para ser outra quando não temos de ser exclusivamente isto ou aquilo...
    Num mundo perfeito, haveria capoeiras livres no topo de uma qualquer falésia. E as galinhas voariam como as gaivotas, com malabarismos estranhos no ar. E seria grotesco, aos olhos de muitos mas...
    Bjs

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  5. no comentário anterior falta o nome: Paulo

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  6. Tb, com tamanha 'galinhice' discursiva, calculavas com facilidade, cunhada...

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