Coisas de diário secreto

- 21.3.10

Ontem resolvi oferecer um diário ao Afonso. Com cadeado e chave, à moda antiga. Fui mostrar-lhe os meus diários e expliquei-lhe que aquilo que eu escrevia não era lido por ninguém. Ou melhor, supostamente, porque a avó Antónia volta e meia quebrava as regras e lá ia espreitar os meus escritos, a tal ponto que cheguei a deixar-lhe recados no próprio diário: "Não leias mais" ou "Se acabaste de ler, peço-te que não voltes a fazê-lo", etc. Enfim, coisas da adolescência. Acontece que o Afonso não é nenhum adolescente. Tem uns míseros seis anos, e anda ainda na descoberta das letras. Mas achei que o facto de ter algo secreto onde pudesse escrever, o aliciaria para a escrita. E a verdade é que funcionou. Hoje de manhã, assim que lhe entreguei o diário e lhe expliquei as regras, fechou-se no quarto e foi escrever a sua primeira frase. O problema foi depois:
- Já acabaste, Afonso? Posso ler?
- Claro que não, mãe! É secreto.
- Ó filho, mas tu só tens seis anos. Não podes ter segredos para a mãe.
- Um diário é privado. Não pode ser lido nem pelos pais.
Para evitar espreitadelas da mãe - semelhantes às da avó Antónia - hoje passou o dia com a chave ao pescoço, dentro de um saco da Kidzania. Lá ia fazendo "pirrassa" e saracoteando-se à nossa frente com o seu diário, e eu e o Sebastião passámos o dia a tentar ler a maldita frase que ele lá tinha escrito. O Sebastião foi menos discreto e conseguiu rapinar-lhe por duas vezes o diário. À primeira foi apanhado pelo irmão e acabou a chorar. À segunda foi apanhado por mim, na casa de banho, a tentar forçar o diário trancado que me tinha custado 15 euros, e acabou a ouvir um raspanete: "Não ouviste o teu irmão? Um diário é secreto!". Mas depois de tudo deitado e o pai também já a dormir, quem não se aguentou fui eu! O dário estava à mão de semear, o saco com a chave também e eu, na calada da noite, acabei por invadir a privacidade do meu filho logo no primeiro dia do seu diário secreto. Que péssima mãe! Pior fiquei ainda quando abri o diário, a roer-me de curiosidade, e li a seguinte frase:

A MAMÃ É BONITA

Mas foi tão feia...

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3 comentários

  1. Pois foi... Se aos seis anos não resististe espera até ele ter 15... O problema é que vais ter que gerir 8 diários secretos: os que escrevem para a mãe ler, aqueles onde escrevem as emoções da vida e onde se queixam que até têm que ter um diário 'oficial' para a mãe os deixar em paz... É toda uma vida na clandestinidade...
    Vá, pára agora, tu consegues!
    Se não conseguires podese sempre ir a uma reunião dos LDA:

    -Olá, eu sou a Sara e leio 8 diários dos meus 4 filhos, como se não houvesse amanhã...
    -OLÁÁÁÁ SAAARA!
    (e vais ver que são imensos!)

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  2. Ah! E há uma diferença significativa! Agora estás só curiosa (deixa lá ver o que é que ele consegue fazer com as letras que domina): não estarias à espera de encontra algo como 'Hoje beijei torridamente a Vanessa e os nossos corpos... bla bla bla.
    Mais tarde é grave, estás a ferir laços de confiança e pior, a replicar um modelo que juraste a ti própria não replicar...
    Pensa que, como mãe ainda podes fazer essas coisas: és inocente e curiosa, és uma mãe-bebé, cais porque és curiosa. Quando se é bebé, podemos andar em cima da mesa, mexer nos genitais sem censura pública, defecar na fralda e andar por ali com aquilo... Depois, é mais complicado...

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  3. Coisa mais fofa o teu filho!!!! O meu mais velho agora diz que eu sou gorda!! Bjos e adorei o blog!

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