Coisas de Círculo da Maternidade

- 21.9.12

Depois do banho, a Nonô chegou-se a mim com a sua escova cor-de-rosa e o seu sorriso meigo irresistível.
- Mamã, posso pentear-te?
Sentei-me no chão e deixei que ela me penteasse, suavemente. Nada de puxões. Escovava e passava ao de leve com a mão, para saborear o liso.
- Agora ponho-te o baton...
E passou-mo pelos lábios, de olhos postos nos meus, e os meus nos dela. E não consegui deixar de imaginar-me na velhice, com os cabelos já menos macios, os lábios já mais enrugados, mas com a mesma Nonô à minha frente, já crescida, mais crescida do que eu, a cuidar-me do cabelo e a pôr-me baton nos lábios.
- Nonô, tomas conta de mim?
- Sim, mamã. Depois do baton eu conto-te uma história.

O ciclo da vida faz mais sentido com filhos. Nem todos podem tê-los, infelizmente, e é sempre possível redescobrir sentidos noutras aventuras. Mas esta, da maternidade, é sem dúvida um círculo bem fechado, perfeito. Nascemos, crescemos, damos vida, cuidamos, libertamos aqueles que um dia dependeram de nós. Até que nos tornamos nós dependentes, precisamos que cuidem de nós, que aqueles a quem demos vida nos olhem enquanto a nossa vida dura. Já não crescemos, minguamos, mas orgulhamo-nos de tudo aquilo que fizemos crescer à nossa volta. E, num mundo perfeito, só então morremos.

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