Coisas de Crise pelos olhos das crianças

- 17.9.12

Apostada em arranjar soluções para a crise portuguesa, hoje desafiei os meus filhos a participarem comigo num brainstorming anti-crise.
Comecei pela pergunta mais básica: "O que é que gostavam que fosse a vossa vida?". E claro que me habilitei a ouvir respostas como "Sopas e descanso" e "Mais tempo para brincar".

Tentei que levassem a coisa a sério (ainda que eu também ache que as crianças precisam de mais tempos para brincar!) e o tom começou a mudar: (Sebastião) "Acho que a escola devia ser grátis! Para vocês não se queixarem tanto..."

Tentei então descentrá-los um pouco da vida deles e dos problemas discutidos dentro de nossa casa, para olharem para o país e pensarem em soluções para os portugueses, como um todo. E as respostas começaram a ganhar conteúdo. Bem... um bocado delirante. Mas são dos grandes disparates dos brainstormings que às vezes surgem as melhores ideias!

Sobre a pirâmide invertida:
(Afonso) Se há faltas de crianças, podíamos arranjar uns bonecos, tipo robots... E os homens também podiam casar com bonecas que tivessem filhos.
(Sebastião) Mas não podemos simplesmente virar a pirâmide ao contrário!?
(Mãe) Não, filho. Não vês que há muitos velhotes?
(Sebastião) Ficavam mais apertadinhos...

Sobre a falta de dinheiro:
(Afonso) Mas porque é que tem que haver dinheiro? Não podia ser tudo grátis? Já sei! Aquelas coisas que todos precisamos podiam ser grátis. E só pagávamos as outras.

Sobre a distribuição da riqueza:
(Sebastião) Então mas porque é que os ricos não dão um bocadinho aos pobres?!


O futuro é das crianças. Talvez fosse bom ouvi-las mais vezes...

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2 comentários

  1. Esola grátias... até há mas é uma bandalheira, com gante de todo o tipo e professores sem valores morais de confiança. Não é tudo igual mas onde moramos não é possivel escola. Pagamos com os nossos impostos a escola dos outros e ainda temos de arranjar dinheiro para pagar a nossa escola. Mas vale a pena quando chegar a altura de fazerem uma carreira é que se percebe que não foi coisas em vão. Muita da crise vem destas despesas todas para coisas que não usufruimos, como a escola e os centros de saúde. Nos estados Unidos quem quer paga e os impostos sabe-se para aonde vão. Eu sei que isto não é simpático de dizer mas é verdade. E a minha mais velha na universidade a pagar dentro de 1 ano...
    uma beijoca e coragem e animo

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  2. Há sempre várias perspetivas da mesma matéria, e é muito salutar que as discutamos e tentemos entender todos os pontos de vista. Também vivo numa zona onde existem poucas escolas públicas "recomendáveis", não tanto pelos professores (não os conheço) mas pela falta de equipamentos, pela pouca oferta de atvidades e horários e insegurança. Nas "recomendáveis" não se consegue vaga. Sei que esta não é a regra, tenho visitado com os meus livros muitas escolas públicas com instalações notáveis, onde os professores têm feito um trabalho extraordinário e envolvem toda a comunidade de pais e avós. Mas não é assim em todo o lado, infelizmente, e os pais vêem-se obrigados a fugir para o privado, por isso entendo perfeitamente o que diz. Mas não sei se o modelo americano se ajustaria a Portugal (embora estejamos a tender para isso). Penso que, a existir um Estado, a sua principal função seria organizar, com aquilo que todos pagamos, os serviços básicos da comunidade, que deveriam ser de qualidade. Mas o Estado, a meu ver, mete-se em coisas demais (das quais nem todos queremos usufruir mas temos que pagar), assim como há pessoas que também exigem demais ao Estado (como se ele tivesse obrigação de proporcionar todo o tipo de regalias, mesmo não tendo dinheiro para tal). Por isso acho que deveríamos começar por refletir o que queremos do Estado, qual o seu papel, e o que estamos todos dispostos a dar em troca para lhe exigir o que lhe compete, sem falhas. Nunca chegaremos a uma solução consensual se não houver consenso (maioritário, pelo menos) em relação à génese do problema. Por isso debates precisam-se. Reflexões precisam-se. E devemos ouvir todos sem exceção, incluindo as crianças, que um dia viverão com o peso das nossas decisões atuais.
    É a minha perspetiva, tão válida, creio, como outra qualquer.
    Obrigada pela seu comentário!

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