Coisas de Trocas de Mães

- 20.9.12

A ideia surgiu por acaso. Uma mãe de um amiguinho do meu filho mais velho ofereceu-se para lhes dar uma hora de conversação de inglês. Para mim só fazia sentido aceitar se o pagasse ou se desse algo em troca. Por isso ofereci-me para retribuir com uma hora de formação musical (que vai degenerar em jam session, aposto! E ainda bem!).
E fiquei a pensar se isto não seria afinal uma grande ideia para os tempos que correm. Os pais têm as suas diferentes competências e saberes. Porque não pô-las ao serviço dos nossos filhos e dos filhos dos outros? E porque não alargar estas "Trocas de Mães" a "Trocas de Avós e Bisavós", que têm tantos saberes para partilhar?

E porque não fazê-lo no seio das próprias escolas?
À Segunda-feira os alunos teriam Agricultura com o avô do João, Tricot com a bisavó do Manel e Histórias dos Anos 50 com o avô da Joana. À Terça o tio-avô do Zé viria ensinar a encadernar livros, e a bisavó da Maria viria ensinar culinária. Pelo meio haveria outros avós e pais (os que tivessem disponibilidade, rotativamente) que vinham ensinar o que é ser engenheiro, maestro, escritor, arquitecto, polícia, médico, vendedor ou gestor. E sim, haveria também os ballets e os futebois, e a música e a natação. Teria de haver também tempo para brincar. E tempo para estar com os pais.

E a única pergunta que atrapalha isto tudo é esta: haveria tempo para tudo, afinal? Não sei. Mas sinceramente, nos dias que correm, pode ser tão importante para os nossos filhos aprender a plantar a terra como papaguear os órgãos do sistema urinário. Saber se o meu filho consegue ou não ler 55 palavras por minuto não me interessa por aí além, se ele não descobrir o valor dos livros, devagar e com sabor. Não gosto de ver crianças ansiosas porque vão ter metas duras por cumprir e exames que contam para médias (que eles nem sabem bem o que são ainda). Não gosto de ver pais ansiosos com a ansiedade dos filhos. Preferia ver filhos a desfrutar do conhecimento que a escola lhes dá, ansiosos por saberem mais daquilo que lhes interessa (e que não é igual para todos!). E pais felizes com a felicidade dos filhos.

Ando em séries reflexões sobre o nosso ensino. Aliás, sobre quase tudo o que se passa à minha volta. Sei que não vou com elas "mudar o mundo". Mas se conseguir mudar qualquer coisa cá em casa e na comunidade onde me insiro, já terá valido a pena a reflexão.

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4 comentários

  1. Concordo a 300%.
    Mais importante do que ter metas duras, horários rígidos e milhares de objectos fúteis, é aprender o que é a vida.
    O que fazem as pessoas, aprender a respeitar e a dignificar toda e qualquer profissão.
    E mais importante do que tudo isto, respeitar os interesses pessoais de cada criança.
    Dar oportunidade às crianças de serem livres para aprender o que quiserem e não apenas sentados numa cadeira e obrigados a ouvir, ouvir e ouvir matéria após matéria, dia após dia...

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  2. E de que servem grandes pedagogices quando tiverem que fazer exames e competir na vida? Blá blá blá mas na hora H o que conta é terem aprendido o que antes o liceu dava. E embora eu ache importante saber historias e tudo o mais... Vamos cair na real... Sei que não gostará destas conversas mas é assim que os tempos estão, não para facilitismos à latina!

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  3. São perspetivas. Não tenho que gostar ou não, tenho que respeitar opiniões diferentes da minha. Mas de facto não concordo com a ideia de que "aquilo que se dava no liceu" seja a solução para o problema atual. Temos milhares de jovens a acabar as universidades todos os anos que não fazem a mínima ideia do que vão fazer no futuro. Entraram no curso para o qual tinham média (às vezes negativa) e têm um conjunto de "teorias" que aprenderam nesse curso que não lhe vai valer rigorosamente para nada, se não tiverem talento ou preparação prática para aquilo que podem vir a desempenhar. Não estou contra o ensino universitário, atenção, ele é importante para muitos casos e para muitas pessoas, e sou sempre a favor do conhecimento. Estou é contra o excesso de oferta de cursos que não servem para nada, sustentados por todos nós, quando não temos cursos "médios" que preparem jovens para todas as outras profissões que são necessárias ao país, e que estão a ser desempenhadas por pessoas à beira da reforma ou estrangeiros. Essas profissões têm que ser dignificadas, para que um jovem que sinta vocação possa optar por elas sem ter aquele peso de ter que conseguir ir estudar qualquer coisa (o que quer que seja) para o ensino superior. E acho que a dignificação dessas profissões passa em primeira instância pelas escolas, que podem mostrar espaços de trabalho, levar profissionais a falar sobre elas, oferecer ateliers das mesmas... para se mudar de vez essa ideia errada de que um curso superior é a garantia de um lugar ao sol. Não há "lugares ao sol" sem vocação e sem uma necessidade real do mercado (que pode ser criada, e a criação vem também da paixão por aquilo que se faz). Mas lá está... é só a minha opinião. Obrigada de qualquer forma pela partilha. Obrigada também pela sua, "Paparoca".

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  4. Ai Sara gosto tanto quando escreves estas coisas! E não podias ter mais razão.

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