Coisas de "a errar é que se aprende"!
Quando tinha 18 anos, resolvi inscrever-me num casting para um musical. Gostava de cantar, de dançar e de representar e, no dia marcado, lá apareci, bem disposta, sem noção nenhuma do que se iria passar. O casting era na Malaposta e, quando entrei, é que percebi o grande erro que cometera. À minha volta via jovens a fazer vocalizos complexos, outros a aquecer com passos de dança complicados... Pareciam todos profissionais e eu não passava de uma menina que simplesmente gostava de dançar, de cantar e de representar.
O meu casting foi uma desgraça completa. Os outros candidatos levavam peças e coreografias preparadas, e eu limitei-me a cantar o “Arménio” à capela e a dançar tristemente uma música que o júri pôs a tocar, do Pedro Abrunhosa.
Quando contei no outro dia este episódio humilhante da minha vida aos meus filhos, eles riram-se muito e o mais velho perguntou-me:
(Afonso) Porque é que nos estás a contar isso? Não era suposto teres vergonha?
(Mãe) Vergonha de quê? Os nossos erros não devem envergonhar-nos. Nunca! Se a mãe não tivesse lá ido, nunca saberia o que era um casting, nem poderia ensinar-vos o que era, ou ajudar-vos a fazer melhor figura do que eu, se um dia quiserem participar num. E além disso, se a mãe não tivesse esta história para contar, vocês nunca se teriam rido como acabaram de rir. Só por isso, não acham que já valeu a pena?
Eles acharam que sim e eu também. E dei por mim a pensar no que eu gostava de ouvir a minha mãe contar como era teimosa em pequena, ou as histórias das aventuras endiabradas do meu pai. Os filhos não estão à espera que sejamos super-homens e super-mulheres. Que tenhamos tido uma vida imaculada e que tudo tivesse resultado sempre de forma perfeita. Os filhos gostam de saber que os pais erraram, que têm defeitos e que os assumem, e sobretudo que se fizeram à vida. Que foram atrás dela, arriscaram, aventuraram-se, experimentaram, viveram! Que erraram umas quantas vezes, sim, como eles também vão errar e ainda bem.
Viver é uma excelente oportunidade para errar, ou não fosse errando que se acerta também...
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