Coisas de Tu, Você e Senhora

- 27.2.14

O Sebastião andava com a mania de chamar os adultos de "você". Ouvi uma, ouvi duas, ouvi três, e finalmente lá arranjei um tempinho para ter com ele uma conversinha de pé de orelha.

(Mãe) Porque é que tratas os adultos por "você"?
(Titão) O pai é que me disse!
(Mãe) O pai disse-te para não tratares os adultos por "tu". Mas não precisas de os chamar de "você".
(Titão) Então chamo-lhes o quê?
(Mãe) Os avós tratas por avós, os tios por tios, os amigos que conheces bem pelo nome... e os outros, ou não tratas por nada, ou tratas por "senhor" e "senhora".

Franziu o sobrolho, pouco convencido. Eu sou a primeira a pôr em causa todas estas formas de tratamento e formalidades - para mim tratávamo-nos todos por "tu" e estava o assunto resolvido - mas parece-me importante ensinar aos meus filhos como lidar com quem gosta de ser tratado de determinada maneira, para que eles não pareçam grosseiros ou ofendam sem querer.

(Titão) "Senhor" e "senhora"?!

Comecei por dar exemplos, mas o sobrolho dele continuava franzido. Parti então para aquilo que eu acho que mais fica na cabeça das crianças: a simulação e a teatrada. Ele fazia de Sebastião, eu fazia dos outros todos. Comecei por ser os avós. Depois fui os tios. E depois fui os outros. Primeiro uma velhinha simpática a quem ele precisa de pedir passagem: "A senhora dá-me licença?". Depois, um homem numa casa de banho masculina, a quem ele precisa de pedir papel higiénico, porque fez as suas necessidades sem assegurar a respetiva quantidade.

Eu sei, eu sei... foi uma ideia imbecil! Mas como ele agora quer ir sempre à casa de banho dos homens, já me tinha perguntado imensas vezes o que ele faria se se visse sem papel. E só quando dei por mim a fazer de homem num urinol, com ele a fazer um rapaz na sanita, é que percebi a embrulhada em que me metera...
Claro que a gargalhada foi inevitável, e o exercício teve de ser ficar por ali. Mas a verdade é que agora, sempre que ele agora se dirige a alguém mais velho, olha para mim com ar maroto e diz-me: "Como na casa de banho dos homens..." A prova de que, pela via do disparate, se podem passar bons ensinamentos para a vida...

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