Coisas de Direitos das Crianças: alimentação

- 29.5.14

Hoje, antecipando o Dia da Criança, fizeram na escola dos meus filhos um Bom Dia sobre os seus Direitos. O Dudu até falou pela primeira vez ao microfone para dizer que as crianças têm direito a carinho e afeto. Mas hoje foi o Direito a uma Alimentação Saudável aquilo que me ficou em mente.
As crianças têm direito à alimentação, condição fundamental para a nossa sobrevivência. Mas, mais do que isso, têm direito a uma alimentação saudável, que não comprometa o seu futuro. Como escrevi há dias, somos em grande medida aquilo que comemos, e o futuro do país será nessa mesma medida aquilo que dermos a comer aos nossos filhos.
Se os protegemos de sítios com tabaco, se os apetrechamos em cadeiras mais seguras, se os vacinamos, se os agasalhamos, se os vigiamos... como é que lhes damos a comer, sem qualquer peso na consciência, batatas fritas de pacote, refrigerantes, doces, chocolates, bolos, bolachas e afins?
Cá em casa também fazemos alguns seus disparates. Cometemos as nossas loucuras de vez em quando. Mas custa-me que a pressão sobre as crianças, por parte da indústria alimentar, seja tão grande e tão difícil de combater para um pai que queira controlar o que elas comem.
Levar os meus filhos ao supermercado é uma tentação! Eles passam pelas prateleiras das bolachas de chocolate e avançam, condoídos: "Já sabemos que a mãe não deixa...". Às vezes tentam enfiar pacotes de sugos e gomas (que estão sempre estrategicamente colocados junto às caixas) nos tapetes rolantes, mas já sabem que não vale a pena porque a chata da mãe está sempre a topá-los... E, no final dos treinos, ficam sempre chateados comigo porque os amigos comem batatas fritas e a fundamentalista da mãe deles não deixa...
No outro dia o Sebastião chegou a casa e revelou-me que, como leva fruta para o lanche da manhã, tem sempre uns amigos que têm pena dele e lhe dão... bolachas de chocolate! Os gémeos queixam-se que o seu lanche é sempre pão (e muitas vezes integral)... eles queriam Manhazitos e cereais de chocolate como alguns colegas! E a pressão é tanta, que eu às vezes dou por mim a perguntar-se se eu é que estarei errada...
A verdade é que esta é a primeira geração a comer MAL. MUITO MAL! Os nossos pais nunca tiveram acesso a um conjunto de guloseimas e iguarias de pastelaria industrial que hoje inundam os supermercados. Quanto muito, comiam um pirolito de vez em quando... A minha geração já começou a ter acesso a outras coisas, mas não era, nem pouco mais ou menos, como é hoje. Não havia restaurantes fast food em cada esquina. Não havia máquinas de guloseimas em cada instituição. Os nossos filhos são a primeira geração a comer muito mal desde muito cedo.
Se hoje se sabe que doenças como a diabetes, colesterol elevado, hipertensão, doenças cardiovasculares e até cancro estão relacionadas com hábitos alimentares, não estaremos a comprometer gravemente o futuro das nossas crianças? O futuro de toda uma geração?
Mundialmente, mais de 22 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade tem excesso de peso, bem como 155 milhões de crianças em idade escolar, segundo dados da British Medical Association. Em Portugal, uma em cada três crianças tem excesso de peso ou obesidade infantil, refere a Organização Mundial de Saúde. Somos dos países europeus com maior número de crianças a viver este problema. Alguma coisa tem de mudar, mas é difícil que mude enquanto as nossas crianças estiverem expostas, diariamente, a todo o tipo de tentações.
Se a alimentação saudável é um direito que elas têm, como podemos defender esse seu direito, contornando todas as pressões e tentações do mercado? Se o tabaco mata, e mesmo assim continua a ser vendido, como impedir que se vendam produtos nocivos para a saúde das nossas crianças? Há quem diga que impedir é limitar a liberdade de cada um. O problema é que uma sociedade doente não é um problema individual. Estaremos cá todos para pagar a fatura, que nos vai sair bem caro...



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