Coisas de "Ruas Rivais"

- 1.8.14

O filme é de uma grande amiga - Rute Moreira, guionista e produtora do filme - que nos desafiou a irmos à ante-estreia.

(Mamã) E é seguro? Não tem muitos palavrões?

Bem, tinha alguns... nada que a miudagem não tivesse ouvido. Nada que os pais não conhecem também desde tenra idade. Ninguém haveria de morrer por isso...
O problema, na verdade, não estava nos palavrões. Estava no retrato fiel (ainda que caricaturado) da juventude, ou parte dela, do nosso país. Adolescentes e jovens tão esquecidos nos filmes portugueses (só com algumas excepções), que a Rute tão bem conseguiu caracterizar num filme cheio de humor, que conta no elenco com humoristas da minha geração (Rui Unas, Fernando Alvim, António Raminhos...) e uma série de jovens youtubers portugueses que têm milhares de visualizações dos "filmes" que colocam na internet sobre os temas que lhes interessam. Os atores estavam presentes, mas foram sobretudo os youtubers aqueles que arrancaram gritinhos e palmas da plateia, a maioria adolescente, público alvo, direto e garantido daquele filme.
Comecei por me sentir deslocada, só pela idade das pessoas que estava a assistir. Depois comecei a ver o filme e senti-me cota. "Caramba, já não os percebo!". "Que linguagem é esta?". "A malta é mesmo assim?". Estas e outras perguntas coloquei a mim mesma durante a visualização, e tratei de as colocar aos meus filhos no final da mesma, ainda suspeitando que eles não tinham entendido grande coisa.

(Afonso) Ó mãe... é assim que a minha turma fala.
(Sebastião) Pois é, my boi.
(Afonso) Não é boi, pá! É boy. O Sebastião ainda não entende, ainda não chegou ao segundo ciclo.

O Sebastião não entendeu alguma linguagem, mas captou totalmente o filme, construído num estilo rápido, descontruído, com um grafismo totalmente adaptado às novas gerações.
O Afonso estava "no" filme". Dominava todas as expressões, entendia os trocadilhos, ria que nem um perdido com as piadas.

E a mãe, no final, sentiu-se cota. Mas cheia de vontade de tentar entender essa nova etapa na qual os meus filhos mais velhos estão prestes a entrar.
Adolescentes e jovens, o filme é garantidamente para vocês e vão delirar.
Pais de adolescentes e jovens... deviam ver também. Somos seguramente gerações diferentes, cada uma com os seus desafios, problemas, visões do mundo. Mas sempre assim foi e sempre assim será. Quanto melhor nos entendermos, melhor conseguiremos construir pontes entre os fossos que, volta e meia, se instalam entre nós. Melhor conseguiremos, acho eu, levar a vida a bom porto.

Por último, os meus parabéns à Rute, que conseguiu fazer o impossível: juntar um elenco de malta jovem que quer mostrar o seu potencial, desde os atores à equipa técnica. Com a sua força aglutinadora, fez um filme sem dinheiro, mostrando que, acima dele, está a vontade de fazer acontecer, e nessa vontade, a união faz a força...

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