Coisas de angústia de Afonso

- 2.3.15

(Afonso) Mãe, ainda falta muito para eu começar a estudar Física?

(Mãe) Não, filho. É já para o ano. E até vais começar por falar do Universo, que é um tema que te interessa.

(Afonso) Vamos estudar os buracos negros e o tempo-espaço e as teorias de como nasceu o universo e os quantum e... e...?

(Mãe) Não, espera... Vais começar pelas bases da Física Clássica. Física quântica e astrofísica é só lá muito mais à frente. Mas é importante entender as bases para entender o resto.

(Afonso nada convencido) Ah... E Filosofia, vou ter quando?

(Mãe) Isso acho que é só no 10º. Daqui a 3 anos.

(Afonso) E vamos discutir o que é a vida e o nada... e se isto é tudo ilusão ou um sonho na cabeça de alguém ou... ou...

(Mãe) Não, espera, filho... Vais ter oportunidade de discutir muitas coisas... Mas acho que começas pelos valores, a ética, o que é a lógica...


Afonso sopra o ar, impaciente.


(Afonso) Porque é que demora tanto até aprendermos as coisas que realmente queremos aprender?


Ui! E como eu conheço esta impaciência e a sensação de que a escola nos empata a vida e nos adia os sonhos... Com todas as virtudes que a escola tem, adormece a nossa sede de conhecimento. Leva-nos a adiar os nossos interesses e aquilo para o qual estamos vocacionados, anos a fio. E isto gera desmotivação. Uma desmotivação que podíamos e devíamos contrariar em casa, mas nem sempre é fácil fazê-lo, quando a carga horária e os TPCs e os testes são tantos, que dão muito pouco espaço para o que se queira ler, investigar, pesquisar, estudar fora da escola.
Nao deveria haver horas, no currículo, para "AQUILO QUE EU QUERO REALMENTE SABER"? Podia ser com um professor que os ajudasse nas pesquisas, que lhes sugerisse livros, autores, sites... Sem testes, sem pressão? Quanto muito, um trabalho ou outro no final do período para partilharem com os colegas aquilo que realmente lhes interessou?

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1 comentários

  1. Não sou utópica ao ponto de achar que a escola deveria permitir aos alunos que explorassem os seus interesses individuais - vivemos num mundo cada vez mais formatado, e quer queiramos quer não, é na escola que se faz grande parte da preparação para esse mundo.

    Mas é para isso que existe o tempo livre. E por isso, sou sim, contra escolas das 8h às 18h, com tpc a seguir, e maratonas de testes. Não há tempo para ser alguém fora da escola. Não há tempo para explorar interesses, aprender coisas diferentes ou até não fazer nada. Sim, porque não fazer nada também nos faz bem, nem que seja de vez em quando.

    Sempre fui uma boa aluna, mas posso dizer que a minha vida mudou para melhor, quando comecei a trabalhar. Agora, até posso sair tarde, o que trabalhando numa multinacional acontece com frequência, mas depois de um longo dia de trabalho, posso fazer o que eu quiser. Voltei a ler, aprendi a costurar, vejo séries e filmes ou fico de papo para o ar.

    E é disso que as nossas crianças precisam, tempo para terem interesses! E os pais tempo para os ajudarem a cultivar novos gostos, e novas actividades!

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