Coisas de filho do meio

- 22.10.15

Mamã de roda dos pequenotes, a ajudá-los com as letras, sílabas, palavras e primeiras frases.
Sebastião, que tem um jeito inato para ajudar os mais pequenotes, junta-se para ajudar a mamã.

(Sebastião) Tu ficas com um gémeo, eu fico com o outro.

Foi uma ajuda preciosa, que rapidamente começou a dar os seus frutos. Os gémeos já tinham de ler frases completas, e o milagre da leitura aconteceu. Devagarinho e ainda timidamente, mas aconteceu.

(Sebastião) Ó mãe, porque é que tu não fizeste isto comigo no primeiro ano?

Mamã engoliu em seco, faca espetada no coração.

(Mãe) Não foi uma altura fácil, Titão. Os teus manos eram pequenos, davam muito trabalho, a mãe estava a escrever aquela série "Maternidade"... foi uma fase mesmo complicado.
(Sebastião) Se tivesses treinado comigo desta maneira, eu tinha aprendido a ler mais depressa...

E os seus olhos, sempre tão alegres, eram agora uns olhos tristes de partir o coração. As letras estacaram, as sílabas esmoreceram, as palavras encheram-se de lágrimas e as frases tornaram-se tristes.

(Mãe) Ó, filhote... não é fácil ser o mano do meio. E apanhaste a mãe muito ocupada, nem sempre teve muito tempo para ti. Mas agora és filho único quase todas as tardes, já viste? És o filho que passa mais tempo com a mãe. Havemos de conseguir compensar o que ficou para trás, não achas?

Assentiu, com os olhos novamente felizes. As letras voltaram a pular, as sílabas amaram-se, geraram novas palavras e as frases ficaram radiantes.

Não sou uma mães que acha que uma família numerosa é sempre o melhor do mundo. Pessoalmente, gosto da casa cheia, da confusão, de lidar com a personalidade de cada um dos meus filhos e aprender o que cada um deles tem para me dar. Acho que ter uma casa cheia também é bom para eles, porque os enche de alegria, boa confusão, capacidade de partilha e de entreajuda. Mas não existem cenários perfeitos. Alguma coisa fica sempre para trás. Ficam programas que não podemos fazer porque somos muitos e/ou fazemos muita confusão. Falta tempo de qualidade em casal. Falta descanso. Falta tempo para levar alguns projetos pessoais e profissionais avante. E falta também, por vezes, tempo para apoiar, de forma individualizada, e respondendo às necessidades específicas, cada um dos filhos. Cá estaremos para tentar geri-lo e compensá-lo, da forma que pudermos e soubermos. E torcer para que, no final desta aventura, olhemos para trás e, colocando na balança os sucessos e os erros, o saldo resulte positivo.

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