Coisas de Jovens e as minhas reflexões da 1 da manhã

- 11.4.17

Há tempos, numa pequena discussão com o meu filho mais velho (ah, adolescência!), eu falava-lhe na necessidade de saber estar e como isso implicava saber estar calado e obedecer em muitos momentos. E ele saiu-se com algo que na altura pensei ser apenas uma provocação, mas que entretanto me tem vindo recorrentemente à cabeça. Foi qualquer coisa como "A vossa geração obedecia cegamente, por medo, ou porque sim. A minha geração abriu os olhos. Não temos de fazer as coisas só porque nos mandam, se não fizerem sentido."

A frase podia até ser provocatória, fruto do calor da discussão, mas a verdade é que acho que ela reflete aquilo que, consciente ou inconscientemente, passa pela cabeça dos nossos jovens, que simplesmente deixaram de querer fazer aquilo que lhes dizem que eles têm de fazer, quando isso não lhes faz sentido algum.

E pergunto-me se isso será necessariamente mau, ainda que me traga chatices tantas vezes, porque eu própria não sei se saberei exercer autoridade (pelo menos não sempre e não em todas as situações) sem mandar "só porque sim". Sem ditadura. Com cooperação.
Muito dona da verdade, expliquei nesse dia ao meu filho que alguém tem de decidir as regras, e que a anarquia, em que cada um faz o que lhe faz sentido, não sei onde nos pode levar. Mas será que o modelo que temos seguido até agora nos tem conduzido a algum lugar assim tão bom? Será que os jovens confiam nos mais velhos como os grandes exemplos a seguir? Quando o país andou a saque e afundou-se numa crise que comprometeu o futuro de muitos jovens. Quando todos os dias estragamos o planeta mais um bocadinho e vamos deixar nas mãos dos jovens essa difícil tarefa de consertar tudo o que temos feito até agora. Quando deixamos que o mundo continue em guerra, que milhares de pessoas morram à fome e à sede, outros tantos morram no mar em busca de um lugar melhor, ou vivam em campos de refugiados à espera de uma vida; quando permanecem as desigualdades, as injustiças, a corrupção, o preconceito, a intolerância. Quando não conseguimos sequer criar uma escola que prepare os mais jovens para o futuro, porque anda sempre tudo preocupado com as eleições e com as mudanças que podem conquistar mais eleitores (generalizando e mal, que eu até acredito em muitas das mudanças que agora vão acontecer!), com a carreira dos professores e o dinheiro das escolas, sem que ninguém ouse perguntar aos jovens afinal o que querem da escola e para quê.

E não quero com isto desresponsabilizar os jovens. Não. Mas nós temos mesmo que os ouvir. Perceber o que é que lhes faz sentido. E porquê. E perceber como podemos envolvê-los na solução, em vez de continuarmos a pensar que eles são sempre o problema.

(Escrevi há dias, a este propósito, no FB:
"Acho que esta geração é realmente diferente da nossa (como a nossa era diferente da dos nossos pais), e vivem de uma forma muito mais "horizontal". Não entendem hierarquias, questionam autoridade imposta, não acatam "nãos" sem explicação. Questionam os adultos sem qualquer constrangimento e abordam-nos sem pruridos nem formalismos. E isso não me parece mau, de todo. É uma outra forma de viver, mais globalizada, acessível, sem limites. Mas é ao mesmo tempo um desafio enorme para quem está a educar. Eu vejo-me grega e só tenho 4 filhos! Não tolero falta de educação, mas é preciso entender o que é efetivamente falta de educação do que é puro é legítimo questionamento da minha forma de atuar. E com isto não quero dizer que não existe falta de educação (existe e muita! Exatamente porque neste modelo mais "horizontal" é preciso haver orientação, ensinar empatia, gestão de emoções, resiliência, etc, e ninguém o está a ensinar neste momento porque ninguém tem tempo). Mas a verdade é que não vamos poder voltar aos anteriores modelos de autoridade. Esses modelos só criam ruptura. Se não vamos, temos de criar/aprender novos modelos de interação e liderança, e os professores, assim como os pais (eu incluída), estão a precisar de aprender novas ferramentas.")

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1 comentários

  1. Tornar-se cada vez mais clara e imperariva a necessidade de modelos de ensino/educação/parentalidade diferentes. Difíceis apenas para nós, pais e educadores, que temos este desafio de o tornar diferente, sem ser obsoleto.
    Também a mim me assustam ser uma mãe diferente daquilo que aprendi a ser. Mas certamente valerá a pena tentarmos ser diferentes e darmos às nossas criancas a possibilidade de serem adultos conscientes, justos e felizes!

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