Coisas de Namorados

- 12.11.06

Coisas de Pais
No outro dia o meu filho chegou a casa e disse-me: “Mãe, tenho uma namorada!”. Involuntariamente, inchei e contive a baba que me saltava da boca em correntes de orgulho. O “meu” filho tinha a sua primeira namorada! Já algumas meninas da idade dele tinham dito que eram suas namoradas, mas ele nunca tinha correspondido ao repto. Agora, pela primeira vez, a ideia de ter uma menina a quem chamar namorada partia dele. E a história até era rebuscada. Porque ele gostava da Madalena, mas a Carolina pediu primeiro para ser namorada dele, de forma que ele tinha que ficar com a última. E a primeira podia ficar para o primo que anda na mesma turma. Se o mundo dos adultos fosse assim tão simples...
Tudo se complicou quando, ainda no trajecto para casa, que é quando o meu filho me faz todas as suas confissões, ele acrescentasse à frase “Mamã, tenho uma namorada”, outra em que dizia, ipsis verbis: “E também tenho um namorado, mamã”... Ri-me nervosamente, enquanto puxava por ele: “um namorado como, Afonso?”. E ele, com a maior naturalidade do mundo, respondeu “tenho uma namorada e um namorado”. Não sabia se havia de ficar mais nervosa com a alegada homossexualidade do meu filho, se com a promiscuidade infantil que ia naquele sala de infantário. Até sou uma mãe com a mente muito aberta, disposta a aceitar tudo o que seja sinónimo de felicidade para os meus filhos, mas a ideia de ver um deles entrar-me pela casa adentro daqui a uns anos com um homem e uma mulher de cada lado a dizer-me “Mãe” (ou será que ele nessa altura ainda dirá mamã?) aqui tens os teus genros...”.
Claro que o embate da frase não teve outra consequência que não fosse uma valente gargalhada a seguir, e uma série de telefonemas para o pai, família e amigos a expôr a vida amorosa do meu filho. Ele não voltou a falar no suposto namorado, e já trocou de namorada algumas vezes, entretanto. E o Francisco, alegado namorado, voltou à categoria dos amigos, até porque, como ele me explicou uns dias depois, “os meninos têm namoradas, e as meninas namorados”. Eu tinha evitado usar a frase para depois não ter que lhe explicar as excepções, mas alguém tratou de o induzir à heterossexualidade e eu não me fiz rogada. Ainda tem muitos anos pela frente para perceber que não é necessariamente assim. Ou talvez nem tenha que perceber grande coisa, nem eu de explicar quase nada, porque a geração dele será aquela em que tudo será permitido sem grande objecções. Nem sequer interrogações. Para o bem e para o mal.

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3 comentários

  1. Tenho uma amiga que é homossexual e que me diz que muito cedo se sentiu reprimida. Ela acha que foi isso que a fez derivar para a homossexualismo. Eu acho que a Igreja, a católica é tremendamente repressiva e não dá valor nenhum ao sexo. Se alguém católico lê este blog ainda faz queixinhas ao D. José Policarpo! Ainda bem que há pessoas livres de preconceitos e que não andam sempre a incutir tabus religiosos aos filhos. Os seus têm muita sorte nisso. Eu não tive tanta mas pronto. Hoje está tudo resolvido mas a minha namorada já não é bem assim.

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  2. Cara mãe do Afonso
    Tenho andado em missão e não tenho vindo aqui.
    Relativamente a este tópico, sugiro qeu, no futuro, se recupere o género neutro. Como não se pode ser homfóbico mas também não queremos estimulaar, para além do razoável, a homofilia, terá de dizer-se aos filhos: "Então, como vamos de namorades?" Ele, no caso do seu Afonso, optará por responder-lhe:
    1."Tudo bem, mãe, a Madalena está óptima." Respira a mãe de alívio e começa a preparar cozinhados para a nora (ou talvez não).
    2."Tudo óptimo. Aproveito para vos apresentar o Francisco. Francisco, chega aqui, querido!"
    Na opção 2., a mãe do Afonso (excluamos o pai que, confirmadas as suas já velhas suspeitas, se prepara para montar armadilhas para urso à volta da casa do carro do Francisco) responde: "Olá Francisco, estás bom?" Ao que o Francisco irá retorquir, não sem antes passar a mão pela cintura do Afonso, afagando-lhe em seguida o cabelo sedoso e farto, já liberto da influência do Ruca: "5 estrelas, D. Mãe do Afonso!"
    Esperemos, da forma o mais politicamente correcta que conseguirmos, que a opção dois vá para o raio que a parta. Contudo... Os genros são mais fáceis de levar que as noras, pelo menos pela tradição...

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  3. Só para dizer que continuo a visitar-te! Gosto muito dos teus textos! : )
    Eu já sabia que dás o teu melhor para ser uma excelente mãe. Tenho a certeza de que estás a conseguir!
    Beijinhos

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