Coisas de Maus Tratos (inventados)

- 11.1.07

Coisas de Pais
Quando cheguei hoje à escola para ir buscar o meu filho, a professora estava a ler uma história à turma. A história do coelhinho que estava triste: triste porque os coleguinhas gozavam com as orelhas dele, triste porque os pais-coelhinhos discutiam... e foi quando a professora decidiu perguntar à turma se já alguma vez tinham visto os pais discutir. Fiquei na retaguarda, a observar as manifestações dos colegas do Afonso, mas o que reagiu mais entusiasticamente, foi nada mais nada menos do que o meu filho... "Sim, já vi! E eu fiquei triste. Depois o meu pai deu-me um pontapé na barriga e meteu-me a cabeça no lixo...". Antes que a professora ligasse para a Protecção de Menores, irrompi pela sala adentro para alegar em minha defesa. Não podia estender o dedo e gritar: "Mentiroso! Logo não vês o Ruca!", ou a professora ficaria escandalizada com a crueldade do castigo e aí é que acreditava mesmo nos relatos do meu filho. Por isso optei por uma gargalhada sonora e um embevecido "o meu filho tem uma imaginação tão grande", enquanto o puxava dali para fora para uma reprimenda em segredo que não pusesse em causa a minha reputação (já que a do pai tinha sido inequivocamente manchada). Que outras coisas não terá dito o meu filho às professoras, aos colegas, às funcionárias? E quando lá chega com as pernas cheias de nódoas negras dos pontapés do irmão, e galos na cabeça de tentar dar cambalhotas no chão? Tenho que explicar urgentemente ao meu filho que existem outras formas de ele se tornar popular na escola...

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1 comentários

  1. Penso poder afirmar que o seu filho, cara Sara (permita-me que a trate assim, de modo menos formal), falava no mais puro sentido conotativo. Ele, num registo denotativo, estaria a dizer algo como: "O meu pai impulsionou-me para a vida, obrigando-me a procurar, com todos os sentidos bem dispertos, a verdade, ainda que nos lugares mais inóspitos." A Sara é que ainda não está preparada para este tipo de linguagem cifrada, própria de agentes secretos. Por acaso ele ainda não lhe disse que tinha "acidentes"? Com vacas, com patos? Pense bem e verá que ele já deve ter falado nisso. Agora, a uma criança, agente secreto no mundo dos adultos, não se lhe pode pedir que explique tudo. Não é que não saiba, apenas não o pode fazer: não seria deontologicamente correcto. Talvez um dia... Se precisar de ajuda em alguma tradução, posso ajudá-la. Para tal, baasta que me contacte, pode ser aqui, dizendo algo como "Não gosto de verdes mas o meu pai põe-me um funil na boca e obriga-me!" Saberei logo o que fazer.
    Atenciosamente
    Toutinegra Futurista

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