Coisas de notinha de música

- 29.1.13

Quando tinha o meu tio muito doente, no Hospital, decidi escrever-lhe esta história. Não sei se ela lhe disse tudo aquilo que eu queria dizer-lhe, mas foi a minha forma de lhe transmitir que, independentemente do que viesse a acontecer, nunca iria esquecer o quanto ele fora importante para mim.
Hoje, alguns anos depois, descobri este pequeno texto, perdido algures no computador. Dedico-o ao meu Xico, à minha "Xica", a todos aqueles que perderam alguém importante, e a todos aqueles que fazem por ser importantes na vida de alguém.


"Era uma vez uma nota de música, muito pequena e muito breve, que vivia numa pequena pauta que nunca tinha até então sido tocada. Mas a notinha não se importava. Ainda que alguém a tocasse – pensava – ninguém lhe daria importância. Era tão minúscula e insignificante... Por isso preferia ficar na sua pauta, em silêncio, imaginando que era uma semibreve, grande e gorda, daquelas que toda a gente ouve e canta e toca e conhece. Preferia não ser nada para imaginar ser tudo.
Até que um dia, um músico apareceu, pegou na folha de papel onde ela estava desenhada, e a notinha encheu-se de medo. Sabia que tinha chegado a sua hora de ser tocada, e que ninguém a ouviria porque era pequena, breve e insignificante. Só na sua imaginação poderia ser mais do que isso. E os músicos tocam notas, não tocam sonhos...
Numa assistência cheia de gente, que estava ali propositadamente para ouvir aquela música, soaram os primeiros acordes. A música começou, tocou e emocionou. Chegou ao fim depressa, como a notinha previra, e a música passou por ela sem ninguém dar conta, como a notinha temera. Mas a notinha percebeu que a música, como a vida, é muito mais do que se ser ouvido ou notado. A beleza de se ser nota, ou pessoa, é fazer parte de uma melodia que encanta, que emocionada e deleita. E para isso, todas as notinhas são necessárias, sejam semibreves ou semifusas. Até os silêncios são importantes. Todos têm o seu espaço na pauta da vida. A música começa, toca, e sempre acaba. Mas entre o começar e o acabar, houve sempre alguém que nos ouviu e foi mais feliz por isso.
E a notinha, que era pequenina, nesse dia, afinal, sentiu-se grande..."


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