Coisas de Rei do Mundo

- 16.1.13

O desafio lançado ao Titão era grandioso: escrever um pequeno texto sobre o que ele faria se fosse rei.

- Ajuda-me, mãe! Eu não gosto de composições.

O rapaz anda convencido que dá mais para as matemáticas do que para o português, portanto lá de despejei mais uma vez a história toda da importância da imaginação em qualquer coisa que façamos na vida, e blablablablabla.

- Estás bem, mas agora ajudas-me?

Não. Era um trabalho individual como todos os outros que ele terá de fazer na escola. E seguiu-se mais uma valente conversa sobre a importância da autonomia na sua vida futuro, e blablablablabla.
Acho que só para não me ouvir mais, o Titão deitou mãos à obra, sozinho. E, algum tempo depois, apareceu-me com isto:

"Se eu fosse Rei mandava os criados pôr câmeras no planeta. Assim via tudo. Quem se portar mal, prendo-o a uma árvore. Mas é só por um minuto. Quem se portar bem vê um desfile de moda.
Eu fico a ver as câmeras e a preencher as folhas."

Li devagarinho, a tentar tirar conclusões rápidas do texto:
- O meu filho acha importante que alguém regule o mundo. Que culpe os maus (ainda que com humilhações medievais... mas de um minuto apenas!) e premeie os bons (ainda que com desfiles de moda!)
- O meu filho, que não liga nenhuma ao que veste, acha que os desfiles de moda são interessantes para premiar os bons (ainda que ele não possa ir vê-los, porque tem de ficar a preencher as folhas)
- O meu filho gosta de preencher folhas (assim como gosta de me furar as facturas, pô-las no dossier, empilhar os cartões das letras... Rico filho! Não sei de quem ele herdou a paciência para tais tarefas, mas não foi da mãe, seguramente)
- Com tanta coisa boa para fazer, enquanto Rei, o meu filho resolve trabalhar 24 horas por dia em busca de um mundo mais justo. Sentido de missão.

Posto isto, e depois de uma panóplia tão grande de conclusões tiradas de um texto tão pequeno, parei e pensei para comigo que não havia conclusões possíveis de algo que era apenas um exercício de imaginação (e senti-me até aqueles críticos que desvendam inúmeros sentidos dos textos dos escritores - que às vezes escreveram sem sentido algum). Porque é que os pais têm esta mania de se pôr a analisar tudo e a querer formular logo teorias complexas sobre os filhos?
Aquilo de que o Titão precisava naquele momento não era de uma análise psico-social, mas somente de um valente abraço pelo esforço do seu trabalho, que no final de contas me fizera soltar uma valente gargalhada (e talvez tenha sido esse unicamente o seu objetivo!)

- Foi giro fazer isto ou não foi?
- Foi.
- Depois fazemos outros juntos, sem ser para a escola?
- Iap!

E "iap" era, na verdade, tudo o que eu podia querer ouvir...





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