Coisas de Filosofia para Crianças

- 22.11.13

Ontem foi dia de Encontro de Filosofia para Crianças, na Universidade Católica Portuguesa. Eu ia no papel de Mãe (estava portanto em minoria, porque naturalmente a discussão e partilha eram mais endereçadas a facilitadores, educadores e professores), e foi muito interessante ouvir os testemunhos de quem, no terreno, já está a implementar a Filosofia para crianças, seja nas escolas, em workshops, no desenvolvimento de materiais próprios, etc.
Acho, efetivamente, que esta é a primeira vez, em toda a História do Homem, que estamos verdadeiramente a democratizar o pensar. O nascimento da escola pública foi, no seu contexto, um passo importante para essa democratização, mas a escola foi (e continua a ser, na maioria dos casos) um espaço de conhecimento balizado, de "formatação" dos futuros trabalhadores e cidadãos do país, sem grandes oportunidades (de espaço, de tempo) para potenciar os "Porquês" da infância, que são talvez os mais importantes porquês da nossa vida toda. Não havia, salvo raras excepções, a promoção de uma liberdade do pensar e do sentir, como agora se está a tentar promover.
Claro que nem todos virão a ser pensadores. No meu microcosmos cá de casa, tenho 4 crianças completamente diferentes com estruturas de pensamento e ação diferentes. Não irão os 4 pensar o mundo no futuro, porque felizmente alguns deles são os que vão agir, os que vão criar, e até mesmo os que vão cumprir. Todos terão o seu papel diferente, e é assim mesmo que tem de ser. Mas há, pela primeira vez na História, uma vontade de oferecer liberdade a todas as crianças, e isso inevitavelmente vai ser determinante para uma mudança profunda na sociedade como a entendemos hoje. Uma criança com liberdade para questionar, põe em causa o que não lhe serve. E, se aliar o pensar à criatividade, vai recriar o que não lhe serve, de forma a servir. Sempre houve quem o fizesse. Quem chocasse, por isso. Até quem fosse queimado vivo, por isso. Alguns tornaram-se génios. Outros nunca foram compreendidos. Sempre foram os "diferentes". Os "loucos". Os "marginais". Os "génios" (dentro ou fora do seu tempo). E agora estamos a criar a possibilidade de todas as crianças o serem e fazerem, desde já, nos seus dias. De todas tirarem de dentro de si as dúvidas, as inquietações, as vontades de mudança... e fazerem-no. E mudarem-no.
A Filosofia para Crianças - assim como a Criatividade - deveriam ser, a meu ver, disciplinas obrigatórias em qualquer escola. Mas não tenhamos dúvidas de que estamos a promover, como alguém dizia ontem, uma "revolução silenciosa". E essa revolução não pode restringir-se à sala de aula, uma vez por semana, ou ao workshop, uma vez por mês. Tem de ser uma luta diária, de várias frentes, com vários aliados, que são todos aqueles que intervêm no dia-a-dia da criança e a preparam para o amanhã.
Falava-se ontem sobre quem está ou não habilitado a promover debates filosóficos, e eu claramente não estou nem estarei, no sentido académico da coisa (e desculpem-me a franqueza, nem quero estar, porque apesar de ser uma estudiosa por natureza, cada vez me identifico menos com as formalidades do meio académico). Mas ninguém me tira da ideia que, de entre todas as obrigações inerentes dos pais, está também a de porem os seus filhos a pensar. A debater a sua existência, a sua essência, o mundo em que se inserem e o que querem fazer dele. Filosofia ou não, não interessa. Para mim, Filosofia é a Vida. E, no caso concreto da Filosofia para crianças, é a promoção de um mundo que finalmente se auto-questiona com liberdade, para se tornar naquilo que realmente possa vir a satisfazer o ser humano.


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2 comentários

  1. Assino por baixo!!! :-)
    Concordo em absoluto e realmente é nosso papel como pais ensiná-los a questionar, por muito que isso nos possa entalar de quando em vez! ;-P
    Beijinhos e boa semana!

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  2. Entalam-nos e bem! É a prova de que os pais também andam a precisar de pensar sobre a vida e sobre o mundo.
    Uma boa semana para esse lado também!

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