Coisas de Mia e os seus 5 filhotes

- 31.3.14

O milagre da vida voltou a acontecer em nossa casa...
Pelas 8.30h, estava eu já sentada a começar a trabalhar, a nossa gata aproximou-se de mim a miar e a chamar-me para o piso de cima. Chamava-me e ia até às escadas, voltava, miava e chamava-me com o olhar.

- O que queres, Mia?

Queria que eu subisse com ela e eu subi. Levou-me, a miar, até um canto escondido do meu armário da roupa, e começou a aninhar-se, sem tirar os olhos de mim.

- Mia... desculpa, mas tu não podes dar à luz no meu roupeiro...

Corri a buscar o caixote que tinha preparado para o grande acontecimento, meti-lhe mais uma manta e obriguei-a a ficar nele. Tentou escapar algumas vezes para o meu armário, mas acabou por acatar a minha decisão.

-E agora, Mia? O que é que queres que eu faça?

Passei-lhe a mão pela barriga inchada e ela aninhou-se no meu braço, com as patinhas a segurá-lo, com os olhos presos no meu. E foi assim, exatamente assim, comigo aninhada ao lado do seu caixote, que ela deu à luz o seu primeiro filhote.

- Não olhes para mim, Mia. Tu sabes o que tens de fazer...

E sabia. Lambeu-o muito bem e depois comeu a sua placenta, deitando o olho uma vez e outra a minha direção, para confirmar que eu ainda lá estava. E não havia como não estar.
Pouco depois, outro gatinho. E mais outro. E mais outro. E ainda outro. Cinco ao todo, em mais ou menos duas horas que pareceram 20 minutos.
Os bichinhos lá se iam aninhando nela, procurando mamar, e ela acomodava-se de forma a chegar a todos. Mas sempre lançando-me olhares que eram daquele tipo de cumplicidades que não precisava de palavras.
Só depois de tudo nascido, a mamar, higiene feita, ela aninhou-se um pouco mais, lançou-me um último olhar e adormeceu. E eu fiquei a olhá-la ainda, absolutamente maravilhada com o milagre que é a vida, e ainda a perguntar-me porque me teria ela escolhido para a acompanhar naquele momento, que eu sempre pensei que era de solidão, sem que ninguém se pudesse chegar perto. A minha gata escolheu-me para a apoiar, e eu senti-me verdadeiramente privilegiada por isso. Já tive muitos animais na minha vida, momentos fabulosos com alguns deles, desde os gatos pequeninos que eu salvava e levava de mota para minha casa, dentro do casaco, até uma ovelha que saltou atrás de mim para dentro de uma piscina, ou uma cadela que deu o seu último suspiro nos meus braços. Mas hoje senti, talvez como nunca, como homens e animais se entendem e podem partilhar juntos e em harmonia esta grande aventura que é a vida...



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5 comentários

  1. Parabéns à mamã e à vovó! ;-)
    A Mia sabe como és boa mãe e quis-te por perto - uma honra e um privilégio para ambas! :-)
    Beijinhos e boa sorte porque, daqui a duas semanas - quando os gatinhos começarem a andar por todo o lado -, quero ver as aventuras que nos vais contar!!! ;-)
    Beijinhos e tudo de bom,
    Sónia

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  2. Momento bonito de ternura e cumplicidade maternal...Mais uma vez enterneci-me e emocionei-me com a descrição que a Sara faz de forma tão simples mas tão grandiosa...
    Este momento de "dar à luz" só mesmo nós, mulheres, compreendemos na sua plenitude...e até os animais entendem isso...e nos chamam a partilhar. Mais um grande momento de carinho!Obrigada.
    E parabéns à família!

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  3. Obrigada pelas vossas palavras. Eu e a minha gata chegámos, sem dúvida, a um nível mais profundo de entendimento. O instinto maternal é algo que é transversal a inúmeras espécies, e nós mães, seja de que espécie for, acho que nos entendemos nesta matéria, para a qual não são precisas palavras...

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  4. Também assisti ao parto de 3 cãozinhos, filhos de um casal Shar Pei pertencente aos vizinhos do lado. Vieram pedir a ajuda da minha filha (na altura ainda estudante de Veterinária) até à chegada dos donos, ambos ginecologistas e um deles a acabar um parto...Mas o mais inesquecível destes nascimentos foi terem acontecido 8 dias após a morte da minha mãe: a Natureza renovou-se à minha frente e fez-me compreender que o mundo não para,a ligação mãe-filhos começa imediatamente após o primeiro fôlego e o caminhar para as maminhas da mãe e iniciar a amamentação é um fascínio!Naqueles momentos senti que estava mais perto da minha mãe, aliviei um pouco a dor recente...E acho que Mia também deve ter tido sentido uma boa energia da parte da Mãe da casa e por isso a escolheu!

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